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Homem, entenda o que é MOSH e como ele afeta sua saúde

Com o assustador aumento nos casos de obesidade, diabetes e deficiência de testosterona, pesquisadores têm buscado compreender como se relacionam essas condições e quais as melhores opções terapêuticas. O artigo de hoje trará um conceito relativamente novo na literatura de saúde brasileira: o MOSH.

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Provavelmente você associe MOSH à dança em roda das festas punk ou de heavy metal, ou aquele salto que cantores fazem, sendo recebidos nos braços de sua plateia. Porém, trata-se de um acrônimo do inglês (Male Obesity-associated Secondary Hypogonadism) que nada tem de festivo. É o hipogonadismo secundário masculino relacionado à obesidade – na tentativa de facilitar ainda mais a compreensão: “uma andropausa causada pela obesidade” – deixo assim.

Hoje, sabemos que existe um ciclo metabólico vicioso que envolve a baixa  produção de testosterona pelas células de Leydig (nos testículos), o aumento na gordura visceral e seus produtos inflamatórios tóxicos, a alteração no sono, a resistência à insulina e à leptina e o descontrole do eixo hipófise-hipotálamo – que controla a produção hormonal em nível central. Falo em ciclo porque cada um desses fenômenos potencializa os de mais. O conceito de MOSH é interessante e útil – e tende a se tornar corriqueiro – porque atribui à obesidade a sua real importância como causadora de carências das quais os homens na meia e terceira idade se ressentem: disposição e força física, energia, controle emocional, libido e vigor sexual. Existem, é claro – e deixo disponível outros textos sobre o assunto -, diversas causas “clássicas” da andropausa (hipogonadismo). Posso mencionar que o próprio envelhecimento em alguns casos é uma delas, assim a sobrecarga de ferro, as lesões ou doenças testiculares e distúrbios em outros hormônios, como os da tireoide. No entanto, no estágio de compreensão atual, sabemos que a obesidade afeta diretamente a saúde do homem prejudicando o funcionamento testicular e das regiões cerebrais encarregadas de administrar níveis de testosterona. Quando da presença da dupla obesidade e diabetes, os impactos são ainda mais claros e maiores.

E as estatísticas apontam claramente para essa associação. Segundo pesquisa americana, 40% dos obesos com mais de 45 anos de idade apresentaram hipogonadismo; naqueles com obesidade + diabetes, chegou-se a metade (50%!).

Ao iniciar os estudos sobre metabolismo masculino em 2009, deparei-me com posicionamentos questionando a andropausa e sua “medicalização”, afinal, seria uma condição normal do envelhecimento. Poderia haver pressão da própria indústria farmacêutica nesse ponto. Hoje, porém, esses argumentos questionando o DAEM são mais difíceis de se sustentar. E, no caso do MOSH, não há nada de normalidade, nada que remeta a um estado de saúde ideal. São homens jovens (até mesmo com menos de 40 anos), com obesidade, muitas vezes já pré-diabéticos ou diabéticos, com grande dificuldade em retomar ou conquistar um estado satisfatório de saúde.

Obesity-induced-hypogonadism3-300x231Nesse novo cenário, com a crescente segurança no tratamento do hipogonadismo masculino e as pesquisas mostrando que ele auxilia esses pacientes a perderem peso e melhorarem seu perfil metabólico, acredito que a investigação das sinais e sintomas e a avaliação laboratorial criteriosa podem ajudar e muito no resgate de saúde desses homens. Segundo pesquisas recentes, a terapia de reposição de testosterona, num período de 6 anos, esteve associada à perda ponderal (variando entre 16 a 23% do peso proporcional ao nível de obesidade), à diminuição da circunferência abdominal (10 a 15 cm) e ao melhor controle glicêmico (redução em 1,9% no nível de hemoglobina glicada). Um aspecto importante que o tratamento possibilita é justamente o que falta e muito nesses pacientes: vigor e motivação.

Engana-se, no entanto, quem acha que a única solução mágica seja tentar corrigir todo o ciclo vicioso focando em apenas uma de suas variáveis – apenas a reposição. O exercício físico, a regulação do sono e a perda de peso, por mudarem o metabolismo e diminuírem as citocinas e sinalizadores que causam a disfunção hormonal, cursam com o aumento nos níveis de testosterona. Um exemplo é melhora no hipogonadismo em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica.

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Voltando agora ao MOSH, segundo os critérios apresentados por Aftab, Kumar e Barber (2013),  seu diagnóstico pode ser feito quando os seguintes critérios clínicos estiverem presentes:

  •  Homens com IMC maior ou igual a 30 kg/m2
  •  Presença de algum sinal ou sintoma que sugira hipogonadismo, como piora na performance sexual, física ou mental, perda de características físicas masculinas, problemas de sono, alteração em glicemia, fogachos (calorões), baixa densidade mineral óssea, anemia sem causa detectada;
  •  Exames laboratoriais indicando alteração (testosterona total confirmada em duas ocasiões e caso necessário, dosagem ou cálculo da testosterona livre);
  •  Dosagens de FSH e LH normais ou baixas, sem quadro de hipopituitarismo;
  •  Outras causas de hipogonadismo foram excluídas.

Deixo, por fim, as ideias de que existe uma relação muito próxima entre obesidade (e todo o estilo de vida sedentário que a maioria de nós leva) e uma redução patológica nos níveis de testosterona; que o conceito MOSH será útil para impulsionar o diagnóstico dessas alterações hormonais em homens que estão sob risco e até então não eram investigados; que o tratamento com a reposição com testosterona pode vir a ajudar os obesos com hipogonadismo a melhorarem seu metabolismo, qualidade de vida e, indo diretamente ao ponto, ao que mais querem e não conseguem, perder e manter um peso saudável. Apesar de ser um assunto muito promissor, deixo claro que não há mágica e a não há a indicação universal.

Em breve, volto a escrever sobre o tema.

Grande abraço, Leandro Minozzo

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Sugiro os artigos:

Ferritina alta

Andropausa/DAEM

 

Referências:

Calderón B1,  Effects of bariatric surgery on male obesity-associated secondary hypogonadism: comparison of laparoscopic gastric bypass with restrictive procedures. Obes Surg. 2014 Oct;24(10):1686-92.

Saad F1, Yassin A2, Doros G3, Haider A3.Effects of long-term treatment with testosterone on weight and waist size in 411 hypogonadal men with obesity Classes I-III: Observational data from two registry studies. Int J Obes (Lond). 2015 Jul 29.

Haider A1, Yassin A2, Doros G3, Saad F4.Effects of long-term testosterone therapy on patients with “diabesity”: results of observational studies of pooled analyses in obese hypogonadal men with type 2 diabetes. Int J Endocrinol. 2014;2014:683515. doi:
Traish AM1.Testosterone and weight loss: the evidence. Curr Opin Endocrinol Diabetes Obes. 2014 Oct;21(5):313-22.

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3 Comentários

  1. Pingback:Andropausa ou DAEM

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