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Não se aposentar?

No último domingo, fui num almoço com a família que é a extensão da minha: os Canabarro. Lá, recebi empolgado telefonema de um amigo parabenizando-me pelos comentários a respeito do novo livro no Correio do Povo do dia. Como assim? Não sabia do que se tratava. Surpreendi-me que meu jornalista preferido havia não só lido o livro, mas também havia gostado. Pessoas próximas (e até pacientes curiosos quando querem conhecer meus gostos) sabem que há muito elogio Juremir Machado da Silva. Tento escutá-lo nas manhãs (dando comentários até sobre o mercado automobilístico) e, principalmente, nos começos de tarde (quando é apresentador do programa Esfera Pública –  uma referência jornalística em termos de pauta e de possibilidade de expressão dos convidados). Receber elogios e críticas sobre artigos, palestras e livro é bom. Quando discussões surgem, então, melhor ainda. É uma percepção que dá vida ao que se escreve, algo mais ou menos assim – ou uma comunicação que se efetiva.

Nesse caso, fiquei muito contente.

Segue a coluna.

“A aposentadoria é uma utopia que pode se transformar em pesadelo. Há quem tema a aposentadoria como se fosse a morte. Mas há quem sonhe com ela durante, ao menos, dez anos. Li um livro interessante sobre isso: “Não Se Aposente –7 caminhos para evitar
uma aposentadoria fracassada”, do médico gaúcho Leandro Minozzo. A ideia parece ser esta: para se aposentar bem é fundamental nunca se aposentar. Não, não se trata de bater ponto até o último dia de vida, mas de continuar ativo depois de encerrado o ciclo de ganhar avida. O fracasso na aposentadoria passa por muitos fatores: falta de dinheiro, sentimento de inutilidade, saudades das rotinas do trabalho, isolamento, muita energia represada na medida em que, no Brasil,as aposentadorias, em média, chegam entre os 53 e os 56 anos de idade, permanecer em casa exacerbando implicâncias com o cônjuge antes sufocadas pelo menor tempo diário de convivência, etc. Leandro Minozzo tem pós-graduação em Geriatria e Gerontologia. Já publicou os livros “Doença de Alzheimer — Como se prevenir”, “Em Busca do Sentido da Vida na Terceira Idade” e “Um Novo Envelhecer — Tempo de ser feliz”. Ele escreve com linguagem coloquial e bota o dedo nas feridas mais delicadas. Há quem imagine a aposentadoria como um paraíso caseiro com a família reunida e todos felizes para sempre numa bela foto. Pode ser mais complicado. É preciso preparar-se para a aposentadoria. Em média, há um bom tempo para viver depois do trabalho. Minozzo apresenta uma estatística interessante: “O IBGE estima que, ao atingir os 60 anos, a sobrevida média seja de mais 21,6 anos, ou seja, para quem já chegou aos 60 anos, a expectativa é que alcance pelo menos os 82”. É duro chegar acerta idade.

Sem título

Chegando, vai mais longe. Aposentar-se, no entanto, salvo para quem se dá bem assim, não é se trancar no quarto para ver televisão. Dá para fazer outras coisinhas. Até sexo. Leandro Minozzo fala de cinco fases da aposentadoria: imaginação (sonha-se com ela desde uns 15 anos antes, como será?), antecipação (faltando uns cinco anos, começam a preocupação e, em seguida, a ansiedade e até o medo), liberação (chegada a hora, é
soltar a franga), redirecionamento (passado o entusiasmo
dos primeiros tempos, vem um tempo de readequação).
Por fim, a reconciliação: vencidas as expectativas exage-
radas, superadas as decepções, redimensionadas as possibilidades, muitas vezes depois dos 70 anos, vem a aceitação da condição de aposentado e, com ela, um aproveitamento mais simples e eficaz. Gostei do livro. Meu dia vai chegar.Ainda faltam uns dez anos se o Fator Previdenciário não for enterrado.

Estou na fase da imaginação. Quero uma aposentadoria exitosa. Com muito trabalho. Se
me faltar o que fazer, pretendo retraduzir sozinho as obras completas de Balzac. É ocupação para uns 30 anos. Se o Inter estiver sem técnico, como ex-colorado, me candidatarei. Se o Brasil tiver candidaturas avulsas, viro político. Senador. Mas só se o mandato for de 15 anos. Com dois mandatos, poderei completar meu tempo de serviço aqui na Terra.”

Coluna de Juremir Machado da Silva, de 16/08/15, no Correio do Povo.

Clique aqui para acessar o blog do jornalista e aqui para ver seu perfil no Wikipedia.

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