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Quedas na terceira idade: ninguém está imune

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As quedas são tão frequentes em idosos, que muitos pensam que se trata de algo “normal”, associado ao envelhecimento. É como se, do nada, o idoso caísse e pronto. Apesar de todo transtorno e medo que as quedas lhes causam, os próprios idosos chegam a acreditar que se trata de algo normal mesmo, e que nada pode ser feito. Pensar assim é errado. Falta educação dos profissionais de saúde e campanhas de prevenção.

Quedas devem ser consideradas como um sinal de alerta ou mesmo uma “doença” dos idosos . Elas têm causas, que, muitas vezes, podem ser tratadas ou amenizadas.  E, dessa forma, as quedas podem e devem ser prevenidas. Em geriatria, quedas são consideradas um grande desafio, rotulada como uma síndrome geriátrica. Engana-se, porém, quem acredita que elas acometem apenas idosos mais debilitados. Sim, eles apresentam risco maior para quedas, no entanto, nenhum idoso está imune. Uma prova disso ocorreu em pleno banheiro da casa de verão do Vaticano, onde o Papa Bento XVI caiu e fraturou o braço esquerdo – uma das lesões mais comuns. O Pontífice precisou realizar uma cirurgia. Um número significativo de idosos não possui a mesma sorte e acaba fraturando ossos mais críticos, como o fêmur. Foi o caso de outro idoso que também poderíamos considerar imune a uma queda: o septuagenário rei Juan Carlos, da Espanha. Há alguns anos, durante uma viagem a Botsuana, onde vergonhosamente a majestade participava de uma caça a elefantes, ele caiu e fraturou o quadril, precisando também ser operado – para sorte de alguns elefantes e vergonha para todo o povo espanhol.

A fratura de fêmur apresenta elevado risco para mortalidade no ano seguinte, algo em torno de 20%. O tempo médio de internação é de 15 dias e há elevada perda de funcionalidade. Aproximadamente 1% de todas as quedas resultam nesse tipo de fratura.

Acho importante falar um pouco de estatísticas. Os números referentes a quedas são impressionantes e deveriam suscitar medidas permanentes. Em pesquisa feita com idosos em São Paulo, 37,5% relataram ter caído no último ano. Se fosse possível extrapolar essa estatística para os mais de 23 milhões de idosos do país, seria algo em torno de 8 milhões de quedas por ano! Imagine: são mais de 20 mil quedas todos os dias.

No estudo de geriatria, alguns sintomas, como a queda, podem representar a ponta de um iceberg, ou seja, o que está debaixo da água, ou o que está por trás da queda, é algo ainda maior e mais complexo. Como causas das quedas podem estar o uso inadequado de medicamentos, déficits visuais, variações significantes na pressão arterial (hipotensão postural), problemas de equilíbrio, de fraqueza muscular, entre outros. Acho que nem preciso entrar na questão dos danos que uma simples queda pode causar a um idoso. Anos de cuidado com a saúde e uma mente ativa e feliz às vezes não resistem a um acidente, ou a um período de restrição ao leito. É comum, após cair, que o idoso desenvolva medo de uma nova queda e isso pode atingir proporções tamanhas que ele passa a evitar sair de casa. Quando acontecem fraturas, facilitadas pelas condições ósseas como a osteoporose, esse medo torna-se ainda maior e mais limitante.

Infelizmente, é raro encontrarmos locais adaptados para idosos. Casas, bancos, calçadas, salões de clube… todos deveriam ter adaptações para evitar quedas. Grande parte das quedas acontece dentro da própria casa e durante o dia. Mas, será que essas adaptações não são implementadas porque são muito caras? Não sei bem. Sabe-se que para adaptar uma casa, de maneira adequada para um idoso, o custo da obra sobe apenas 6% – muito menos do que uma piscina ou um lavabo. No Brasil, 25% das casas tem pelo menos um idoso. Quantas casas adaptadas será que temos?

Aliás, quando você leu ou viu uma campanha de saúde pública sobre o assunto?

É para pensar.

 

Deixo algumas dicas para evitar quedas.

Em casa:

• Evite tapetes soltos;

• Aumente a iluminação (lâmpadas de 100w);

• Evite desníveis dentro de casa e piso escorregadio;

• Não deixe fios pelo chão (telefone);

• Evite móveis deslizantes e pontiagudos;

• Utilize corrimão em escadas;

• Evite cadeiras com alturas inadequadas e sem apoio lateral;

• Mude a mobília de forma a desimpedir o caminho;

• Informe ao médico se você tiver tonturas, problemas de visão ou de equilíbrio;

• Faça avaliação periódica de visão;

• Não use medicamentos sem autorização médica.

No banheiro:

• Adapte vasos sanitários mais altos;

• Use barra de apoio (vaso, chuveiro, pia);

• Utilize tapetes de borracha;

• Evite banheiras.

Cuidados pessoais:

• Procure não usar de chinelos;

• Evite sapatos desamarrados;

• Não utilize roupas muito compridas (calças).

Durante a noite:

• Ligue as luzes ao se levantar;

• Sente-se na cama por um minuto antes de levantar;

• Vista-se na cama;

• Use calçados fechados (com antiderrapante).

Quarto:

• Evite roupa de cama muito comprida;

• Evite prateleiras do roupeiro muito altas;

• A cama deverá ser firme e de altura adequada que permita a entrada e saída sem grande dificuldade;

Em termos médicos mais diretos, a manutenção dos níveis adequados de vitamina D, com suplementação de 800 Ui para idosos, a prevenção ou tratamento da sarcopenia, a correção de deficiências visuais, o uso racional de medicamentos (ou seja, usar o mínimo possível de sedativos) e o exercício físico regular previvem e muito as quedas!

Não aceite as quedas! Encare-as como de fato merecem: como se fossem uma doença.

 

Abraços, Leandro Minozzo

Médico nutrólogo, pós-graduado Geriatria e Gerontologia.

 

 

Veja mais em: http://www.casasegura.arq.br/casa_segura.html

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