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Visões e Interpretações de um Pediatra.

“Após 30 anos de exercício da medicina, percebi que meu sonho de transformar o mundo por meio da saúde, não aconteceu da forma esperada.”

Pediatria

Tenho um grande amigo que, além da paixão pelo Sport Club Internacional, também compartilha comigo a vocação da medicina. Enquanto costumo atender muitos “velhinhos” e “gerontolescentes”, o Alberto atende bebês, crianças e adolescentes. Temos também em comum uma inclinação em juntar o cuidado com a educação para, e com, as pessoas. Fomos colegas de um mestrado que possibilitou teorizarmos um pouco essa mistura. Utopia? Talvez não.

Disponibilizo o texto, fruto de um trabalho muito minucioso, do Alberto para apreciação de quem deseja conhecê-lo. Ou para quem deseja entender um pouco sobre medicina, pediatria e a visão de pessoa defendida por esse colega de grande coração.

Ficou curioso? O começo é mais ou menos assim:

“Após 30 anos de exercício da medicina, percebi que meu sonho de transformar o mundo por meio da saúde, não aconteceu da forma esperada. O mundo mudou de tal maneira, que se transformou em algo diferente do que nós, jovens estudantes do passado, pensávamos ser o “verdadeiro” caminho para a libertação do homem. Mesmo sem entender bem seus significados, lutávamos, entre tantas abstrações, pela liberdade, pela coletividade, pela felicidade, tudo com muita determinação e convicção, uma convicção quase dogmática. Estávamos em meados dos anos 1970 e início dos anos 1980. Vivíamos no período do regime ditatorial militar em nosso país e, mesmo que afastados dos grandes centros, a faculdade de medicina nos possibilitou a oportunidade de sermos protagonistas de algumas discussões que se iniciavam em relação à saúde. Fundamentalmente, a saúde passou a ser via para a democracia, um caminho para a transformação da realidade. Na ausência de liberdade de organização política, a saúde, por intermédio da saúde pública, era o instrumento para acontecer esse devir. A saúde era vista como propulsora da democratização da sociedade e estimuladora da emancipação do homem. Liberdade era o nome do sonho alcançável pela democracia – liberdade para ler, ver, dizer, cantar. Nós procurávamos obter o direito de acesso as mais básicas necessidades de conhecimento e organização social. Éramos estudantes de medicina nessa época. Formei-me em 1982 e terminei a residência médica, em pediatria, em 1984. O ensino médico era – ainda é – positivista, biologicista, fragmentado e especializado. Após oito anos aprendendo a ser médico, senti que a medicina não respondia a todas as nossas inquietações sobre a existência humana. Procurávamos entendimentos além da saúde física e mental e acabamos tentando o social.”

Clique no link para fazer o download do texto completo: Alberto Chamis Dissertação final mestrado

Parabéns sempre, Dr. Alberto Chamis!

 

Resumo

Esta dissertação vincula-se à linha de pesquisa “Culturas, Linguagens e Tecnologias na Educação” e tem como problema central as mudanças culturais que incidiram sobre a educação em saúde nas décadas de 1980, 1990 e 2000, desde a perspectiva hermenêutica de compreensão, traçada por seu autor. O estudo buscou compreender as transformações ocorridas nos sentidos atribuídos à educação em saúde e à prática médica em saúde coletiva, tomando como referência as narrativas autorreferentes de um médico, ao longo de seus trinta anos de prática profissional. Além disso, esta investigação buscou ampliar a compreensão do processo educativo em saúde, produzindo saberes úteis à qualificação das práticas de educação em saúde junto às comunidades das periferias urbanas. Teoricamente, vincula-se ao campo da “saúde coletiva” e da “educação em saúde”, servindo-se das principais produções intelectuais geradas nas últimas décadas. Aproxima-se ainda, dos referenciais da sociologia reflexiva, sobretudo no que se refere à compreensão das transformações culturais vividas no século XX e seu impacto sobre a produção das subjetividades e dos modos de existência. Metodologicamente, apresenta-se como pesquisa narrativa-hermenêutica, servindo-se de material narrativo autorreferente, produzido e acumulado a partir da prática profissional em saúde. Os resultados apontam na direção de uma necessária radicalização da atitude dialógica intercultural em saúde, para que as transformações expressas e preconizadas na Política Nacional de Humanização sejam efetivamente encarnadas nas práticas e na formação médica, tradicionalmente, marcada pelo tecnicismo e pelo cientificismo reducionistas. A dissertação fomenta ao mesmo tempo em que defende a produção de saúde enquanto processo hermenêutico e existencial que, cada vez mais na cultura contemporânea, precisa marcar a busca por sentido de vida e de trabalho entre os cidadãos, usuários e profissionais.

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