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Medicamentos e Idosos: Olhos Bem Abertos!

Sabemos que com o passar da idade ocorrem modificações importantes no corpo. A quantidade de líquido extracelular diminui, enquanto a de gordura aumenta consideravelmente.  As funções de diversos órgãos também se alteram. A acidez do estômago torna-se menor. O fígado fica mais lento na realização de suas funções, além disso, o uso de diversas medicações ao mesmo tempo dificulta seu correto funcionamento. No caso dos rins, por exemplo, há uma perda normal de 1% por ano em suas capacidades após os 50 anos.  Essas alterações, que começam na absorção passando pela metabolização e distribuição, terminando na eliminação, influenciam na forma como os mais velhos respondem a um determinado medicamento.
Como a maioria dos medicamentos foi testada predominantemente em adultos, alguns cuidados devem ser tomados quando se decide começar com um deles em pacientes idosos. E quais as consequências de negligenciarmos essa diferença própria dos mais velhos quando indicamos um tratamento? Quedas, esquecimento, hemorragias digestivas e visitas desnecessárias à emergência. Hipócrates, lá atrás, já deixou bem claro qual é o objetivo de qualquer ação médica: primeiro, não prejudicar o paciente. Medicamentos e idosos: vamos falar mais sobre isso. Espero que ao final do texto, fique justamente essa mensagem de um alerta constante.

Começamos com um exemplo de medicamento comumente prescrito para idosos, em especial aqueles que dependem do SUS, o diazepam. Ele possui a característica de se acumular na gordura  e, como vimos, um idoso apresenta muito mais gordura corporal do que um adulto. Com isso, o tempo que uma dose de diazepam leva para ser totalmente eliminada pode chegar a longas 200 horas!  Essa característica lipofílica também faz que seu uso frequente cause um efeito acumulativo, ocasionando diversas reações adversas como tontura, piora na memória e fraqueza muscular, que pode resultar em quedas. O mesmo acontece com diversos outros medicamentos antibióticos, antiinflamatórios, antidiabéticos e aqueles que atuam no sistema nervoso.

Preocupadas com isso, sociedades de geriatria pelo mundo periodicamente publicam listas de medicamentos cuja prescrição deve ser evitada em idosos. A relação mais conhecida é a Sociedade Americana de Geriatria e é chamada de Critérios de Beer’s, sua última atualização foi em 2012. Os medicamentos que estão nessa lista devem ser evitados ao máximo, uma vez que há, na maioria das vezes, opções mais seguras. No entanto, cabe ressaltar, que em alguns casos o médico pode acabar tendo que optar pelo uso temporário de um deles.

Seguir bem essas listas ajuda tanto o médico quanto o paciente a evitar um fenômeno comum que é usar um medicamento para “curar” os efeitos adversos que estão sendo causados por outro.

O problema é que, muitas vezes, o paciente faz uso de alguma dessas medicações há vários anos e acha que não vale mais a pena tentar retirá-la ou fazer uma mudança. Porém, devem-se levar em consideração as modificações que ocorrem com o passar da idade e os ricos que aquela medicação possa trazer. Entenda que não é à toa que o médico tenta fazer essa troca. Reduzir o risco de quedas, diminuir a sonolência, melhorar a memória e o raciocínio, evitar quedas bruscas na pressão arterial são razões importantes que justificam pelo menos que se tentem essas mudanças!

Outro problema freqüente no uso de medicações por pacientes idosos é a quantidade de receitas de médicos diferentes, muitas vezes de datas bem distantes. Recomenda-se que seja feita uma lista atualizada das medicações, e que a mesma sempre esteja com o paciente quando de consultas ou idas ao hospital. Eu costumo também deixar uma cópia com algum dos filhos.

Fique esperto e converse com seu médico sobre uma possível troca!

Sabemos que, às vezes, não se tem a disposição medicamentos menos prejudiciais e o médico necessita tomar alguma conduta – ou seja, não condene quem quer te ajudar, apenas pergunte!

Aproveitando o assunto, tenho a opinião de que o Ministério da Saúde e secretarias estaduais e municipais deveriam ficar atentos a essa questão, uma vez que diversas medicações que devem ser evitadas ao máximo nos idosos estão disponível no Programa da Farmácia Popular. Um desses absurdos é o fato de haver aproximadamente 3 milhões de idosos com depressão no Brasil e a única medicação que o SUS disponibiliza, sem encaminhamentos burocráticos cansativos e desarticulados na maioria das vezes, é a amitriptilina – que, nos idosos, ocasiona sérios efeitos adversos (piora cognitiva, alteração no ritmo cardíaco, retenção urinária e aumento no risco de quedas).

Abraços, Leandro Minozzo

Para acessar a lista completa dos Critérios de Beer’s clique aqui.

 Lista resumida de medicamentos que devem ser evitados em idosos

(Critérios de Beer’s) 

Carisoprodol (encontrado no Beserol, Dorilax, Trandilax e Mioflex, entre outros)

Pode provocar sedação, fraqueza, confusão mental.

Fenilbutazona (encontrado na Butazolidina)

Associado a alto risco de danos na formação de elementos do sangue.

Indometacina

Risco para alterações no sistema nervoso e danos ao estômago.

Meperidina (Dolantina)

Pode causar ansiedade, tremor, espasmos musculares, crises convulsivas e confusão mental.

Relaxantes musculares (encontrados no Dorflex, Tandrilax, Beserol, Dorilax, entre outros)

São drogas pouco toleradas por idosos, pois podem causar hipotensão ortostática (ver página x), depressão no sistema nervoso e piora no raciocínio.

Amitriptilina

Inibe uma substância chamada acetilcolina, causando piora na memória e raciocínio, constipação, dificuldade para urinar, confusão mental, glaucoma e boca seca. Também pode causar hipotensão ortostática, quedas e arritmias cardíacas.

Fluoxetina

Demora para ser eliminada do organismo em idosos, com risco de estimulação excessiva do sistema nervoso, agitação, diminuição no apetite, perda de peso e insônia.

Metildopa

Pode provocar diminuição nos batimentos cardíacos, hipotensão, hepatite e agravamento na depressão no idoso.

Nifedipina de curta duração ( nome comercial Adalat 10 mg)

Diminui a pressão arterial em excesso, com aumento da freqüência cardíaca. Aumenta a mortalidade cardiovascular quando o paciente tem insuficiência cardíaca ou cardiopatia isquêmica. Pode causar constipação instestinal.

Amiodarona

Pode causar arritmias graves e distúrbios na tireóide.

Medicamentos anti-histamínicos (antialérgicos), como hidroxizina, prometazina, dexclorfeniramina.

Podem causar diminuição da memória e do raciocínio, confusão mental, quedas e retenção urinária.

Antiespasmódicos: hioscina (Buscopam e Tropinal), beladona (Atroveran), entre outros.

Antipsicóticos (Haldol, entre outros)

Podem causar distúrbios nos movimentos, como tremores e, também, piora na memória e raciocínio.

Diazepam, Flurazepam, clordiazepóxido, Alprazolam acima de 2mg e lorazepam acima de 3mg.

Sedação, fraqueza, risco de quedas e confusão mental. Podem causar dependência, ou seja, viciar.

Biperideno (Akineton)

Podem causar diminuição da memória e do raciocínio, confusão mental, quedas e retenção urinária.

Ticlopidina

Risco de alterações sanguineas.

Laxantes estimulantes como o bisacodil e outros.

Podem causar diarréia e piorar a constipação.

Digoxina acima de 0,125 mg/dia

Pode causar perda do apetite, náuseas, cansaço, confusão mental, quedas e arritmias cardíacas.

Clorpropamida (Diabinese, entre outros)

Demora muito para ser eliminada (mais de 3 dias), aumentando o risco de baixar demais os níveis de açúcar no sangue (hipoglicemia).

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5 Comentários

  1. Daniela gamin

    Dr.Leandro venho acompanhando sua coluna no jornal e me interesso muito pelo assunto terceira idade, meus avós morreram muito novos, e hoje sei o quanto é importante ter uma vida saudável , cuidar com o abuso de medicamentos e também do sedentarismo a alimentação. Estou me informando bem para também orientar meus pais, tenho uma dúvida, meus avós paternos tinham varizes muito salientes nas pernas e não buscaram trata-las e ambos morreram de avc. Não sei se tem alguma relação quanto a isso, meu pai está com varizes também, e minha questão é, um idoso pode fazer cirurgia,será que existe algum medicamento nesses casos? Quero ver meus pais envelhecerem com saúde.

  2. Flávio

    Gostei do comentário. Fazem (4) meses que estou tomando SERTRALINA e RIVOTRIL. Quero parar de tomá-los, porque simplesmente não conseguia dormir na época. Na segunda caixa de RIVOTRIL, fui tomando aos poucos, regredindo a medicação e quando parei total, começou a me dar tonturas ao deitar e ao levantar da cama.Sei que este sintoma é do RIVOTRIL 2mg. Como farei para ir largando ele aos poucos ? Desde já, muito obrigado e uma boa noite Doutor.

  3. maria cristina giani diégues

    Bom dia!Quando o assunto envolve idosos e medicamentos me chama muito a atenção, ainda mais quando vc está na luta contra uma depressão senil (minha querida mãe-75 anos) há quase três anos, onde.já tomou (acredito) quase todos os psicotrópicos existentes, além da ECT , cuja resposta ainda não vem sendo satisfatória, e a conclusão que chego é que depois de certo tempo a são desses medicamentos

  4. maria cristina giani diégues

    Depois de certo tempo a ação desses medicamentos praticamente é perdida, e se chega num ponto que nem se sabe qual remédio funciona de verdade …é uma pena.

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