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Melhor que palavras-cruzadas, exercício físico previne Alzheimer

 

Apesar de ter começado as orientações preventivas por aspectos nutricionais, é preciso deixar claro que em termos de evidências científicas o que mais está relacionado à redução no risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer é a atividade e o exercício físico. Esse poder é tão grande que supera até mesmo o nível de escolaridade. Caso fosse necessário dar apenas uma orientação para quem não quer desenvolver a doença, eu não ficaria em dúvida que seria justamente motivar a prática de atividade física. Essa situação de escolher apenas um caminho é meramente ilustrativa. Felizmente, podemos somar dieta, atividade física e estímulos diversos à nossa estratégia de prevenção.

Ao revisar os fatores de risco para o desenvolvimento da doença de Alzheimer, assim como as alterações que a caracterizam fica fácil entendermos o poder preventivo que a atividade física possui. Em primeira análise, no começo do livro destaquei que se trata de uma doença caracterizada não pelo domínio de influência da genética, mas sim do estilo de vida (dieta, atividade física, estresse).  E nesse aspecto, guarda uma relação muito próxima às doenças cardíacas, como o infarto. Tudo que faz bem ou mal para o coração acaba tendo relação com a doença de Alzheimer.

Pessoas que movimentam seu corpo regularmente, que fazem caminhadas ou qualquer outra forma de exercício diminuem suas chances de desenvolver obesidade, diabetes, hipertensão arterial e problemas com o colesterol. A atividade física regular mantem a saúde dos vasos sanguíneos em dia e, como vimos, o funcionamento correto do sistema nervoso é extremamente dependente de um coração e de vasos sanguíneos funcionando bem.

Outro aspecto muito relevante é que a atividade física regular ajuda no tratamento e prevenção de uma doença muito ligada à doença de Alzheimer, que é a depressão.

Porém a lista de benefícios que a atividade física desempenha em termos de prevenção da doença de Alzheimer não fica restrita à saúde dos vasos sanguíneos e depressão. Assim como na alimentação, ela consegue auxiliar na prevenção através de diversos mecanismos.

 

Além de reduzir diversos fatores de risco, a atividade física regular consegue agir diretamente nos mecanismos responsáveis pela doença de Alzheimer. Ela reduz a inflamação, o estresse oxidativo e controla os níveis de açúcar no sangue, equilibrando o metabolismo da insulina. é nessa capacidade de prevenção multifatorial que reside o poder da atividade física na preservação da saúde mental!

Fora isso, uma das poucas maneiras de estímulo da neuroplasticidade, que é a capacidade dos neurônios de formarem novas comunicações ou mesmo se multiplicarem em certas regiões, é justamente através da atividade física. Estudos comprovam que o corpo responde ao exercício físico com um aumento nos níveis de neurotrofinas, como o BDNF, que estimulam a neuroplasticidade.  E isso, acontece justamente numa das regiões cerebrais mais importantes em termos de memória, que é o hipocampo. Pesquisas com exames de imagem avançados, demostram que há aumento no volume do hipocampo quando voluntários são direcionados à pratica de atividade física regular.

Diversos estudos comprovam o benefício do exercício físico na função cognitiva. Art Kraemer e Kirk Erikson analisaram a aptidão física e o volume do hipocampo de 165 adultos entre 59 e 81 anos. Os pesquisadores constataram que quanto melhor o desempenho no teste de esteira, maior era o volume do hipocampo. Na continuação dessa pesquisa, submeteu-se um grupo desses idosos à prática regular de 40 minutos de exercícios aeróbicos três vezes por semana, enquanto ao outro grupo foram propostos exercícios de alongamento e de tonificação muscular apenas. Após um ano, foram feitas novas imagens cerebrais. Os participantes que fizeram exercícios aeróbios apresentaram um crescimento de 2% no volume de seus hipocampos, enquanto aqueles que não fizeram trabalho aeróbico, mas de alongamento e tonificação muscular, apresentaram uma redução de 1,5% na estrutura cerebral encarregada da memória. A essa diferença, os pesquisadores descreveram como sendo equivalente ao declínio cognitivo esperado a 3 anos, ou seja, o grupo que participou de atividades aeróbicas tornou-se cognitivamente mais “jovem” em relação ao outro.

Outras vantagens da atividade e do exercício físico são a redução no nível de estresse e a maior exposição solar. Em seguida, abordarei um aspecto importante que é a questão da capacidade de concentração, e novamente falarei sobre as vantagens de se movimentar o corpo regularmente. Por último, cabe destacar um benefício espetacular da atividade física que é o contato social. Praticar um esporte, ou mesmo caminhar com outras pessoas, ajuda e muito na prevenção da doença de Alzheimer por estimular diversas regiões cerebrais ao mesmo tempo. Há a possibilidade de se conseguir tanto os benefícios do exercício para o sistema circulatório e neuroplasticidade, quanto os estímulos cognitivos oriundos das relações sociais.

 

E qual tipo de exercício seria o ideal? E qual a frequência? São perguntas que dificilmente poderia responder com exatidão. Porém, considero inteligente a combinação de atividades que trabalhem a questão aeróbica, de força e resistência muscular e também de elasticidade e equilíbrio. Além do condicionamento aeróbico, não se pode esquecer da questão de se preservar a estrutura muscular, evitando a temida sarcopenia. No consultório, para tornar mais prática a nossa conversa, procuro recomendar caminhadas diárias, ou bicicleta ergométrica para aqueles com problemas ortopédicos, associadas a algum tipo de exercício resistido, como musculação duas vezes por semana. Mas os benefícios são encontrados também em diversas outros tipos de atividade, como pilates e natação.

Além da questão da capacidade aeróbica e de massa e força muscular, outro aspecto que se mostra fundamental na prevenção da doença de Alzheimer e merece atenção é o equilíbrio. Sabe-se que ter um bom equilíbrio está relacionado a menores chances de perda cognitiva. Logo, atividades que envolvem essa habilidade também podem trazer benefícios cognitivos no longo prazo.

 

E quanto à frequência da atividade física, o ideal é que seja diária. Se pararmos para pensar que hoje em dia pouco caminhamos ou usamos da nossa força, é natural que dedicássemos algum período do dia para realizar essa compensação. Quando o exercício se torna prazeroso, muitas pessoas chegam a sentir falta de sair de casa e se movimentar.  E o interessante é que mesmo caminhadas de apenas 20 minutos já conseguem causar alterações cerebrais que previnem a doença de Alzheimer.

 

Exemplos do impacto positivo do exercício físico na melhora ou manutenção das funções cognitivas vêm de dois estudos. No primeiro, feito com idosos residentes em instituições de longa permanência (asilos) nos Estados Unidos, descobriu-se que, mesmo em pacientes já portadores da doença, a prática de exercícios durante uma hora duas vezes por semana foi suficiente para diminuir o avanço das perdas cognitivas. No segundo, publicado em Janeiro de 2013 e também feito nos Estados Unidos, conclui-se que a prática de exercício físico em portadores da doença de Alzheimer em fases iniciais traz enormes benefícios como a redução no esperado declínio das funções cognitivas. Inclusive, aqueles pacientes que caminharam pelo menos 2 horas por semana chegaram a ter melhores resultados em testes cognitivos, como no mini-mental (MMSE) – o que pode parecer simples, mas representa uma enorme vantagem para o paciente e para seus familiares. Para se ter uma ideia, hoje não contamos com nenhuma medicação para demência capaz de aumentar os resultados em testes cognitivos, elas apenas possibilitam a estabilização do declínio das funções mentais.

 

Enfim, cabe lembrar que a prevenção da doença de Alzheimer deve visar sempre o maior número de fatores de riscos e mecanismos responsáveis pela doença. Quanto maiores forem os recursos preventivos, maior a chance de obtermos sucesso. Assim como os fatores de risco quando se somam causam um impacto ainda maior nos neurônios, os fatores preventivos também possuem essa capacidade de sinergia.  Associar a prática regular de exercício físico com uma alimentação saudável torna-se uma brilhante estratégia para diminuir e muito os riscos de desenvolvimento da doença.

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