Com a proximidade da semana Farroupilha, muitos gaúchos participarão de diversos encontros comemorativos e, inevitavelmente, comerão muito churrasco. Eu, pessoalmente, pretendo ir em algum desses eventos.
Deixo importantes alertas sobre os riscos do consumo excessivo de carne vermelha.
Primeiro, sobre a quantidade considerada adequada. Ela fica em torno de 500 g por semana, ou 45 g ao dia. Esse valor pode ser um pouco maior dependendo do nível de atividade física, do peso e composição corporal do indivíduo.
Sobre o consumo excessivo, temos que a cada porção extra, ou seja, a cada 45 g a mais de carne vermelha que se consome ao dia, há um aumento de 13% no risco para doenças cardiovasculares.
Reconheço que há detalhes envolvendo pesquisas nutricionais que são relevantes, como o tipo de carne estudada, se era in natura ou processada, a forma de preparo e os fatores de confusão, como peso e hábitos das pessoas avaliadas. O que se sabe, a grosso modo, é que a carne in natura, de preferência de gado não confinado, não é tão associada a riscos quanto as formas mencionadas (mais industrializadas).
Classicamente, sabemos que o consumo de carne vermelha em excesso está relacionado ao desenvolvimento de “crises de elevação de ácido úrico”, ou seja, de casos de gota. E, nessa época, também é frequente a descompensação de quem já enfrenta o problema. Isso, porque, é frequente o aumento concomitante de cerveja nessas comemorações. E essa combinação se torna ainda mais preocupante quanto ao ácido úrico.
Quanto ao churrasco, o método de preparo, um grande risco é o consumo de compostos químicos formados no processo de queima da carne. O que se sabe é que, de difícil depuração, eles estão associados ao risco aumentado para desenvolvimento de câncer. Há algumas técnicas que diminuem a formação desses compostos, como a distância correta entre a carne e a brasa e um limite de temperatura.
Outro detalhe importante é o excesso de sódio relacionado aos churrascos. E, aqui no RS, já temos, habitualmente, uma cultura alimentar com sobrecarga de sal. Pessoas hipertensas, com doenças renais e insuficiência cardíaca podem correr riscos nessa época.
Terminando esse alerta, lembro que muitos gaúchos estão acima do peso e com sinais de sobrecarga de ferro (classicamente detectado através da ferritina elevada). Tenho atendido cada vez mais pacientes com ferritina elevada. Sabemos que o excesso do metal pode precipitar doenças sérias, como diabetes, alterações na tireoide, testículos, ovários e no fígado. E tudo isso assusta qualquer gaudério.
O que sugiro?
Evitem carnes muito passadas (com bordas queimadas);
Comemorem (literalmente) a tradição farroupilha de igualdade, liberdade e humanidade (inscritos na bandeira) e que tal aproveitar para fazer um gesto nobre: caso tenham algum receio quanto à sobrecarga de ferro, que tal doar sangue? Uma doação equivale a retirada de 200 mg de ferro, ou seja, contrabalança qualquer exagero cometido nesse mês.
Grande abraço, Leandro