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Prepare o Colaborador para Se Aposentar

Investir em preparação para aposentadoria dos colaboradores pode trazer retornos valorosos à organização.

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Entre os diversos investimentos que uma organização pode fazer para qualificar seus colaboradores, destaco os programas de preparação para a aposentadoria (PPA’s). O assunto tem frequentado o noticiário e cada vez mais causa reflexão, afinal, após os 50 anos, a maior parte das pessoas é atingida por dúvidas quanto a seus planos para as fases finais da carreira. Apesar de ser difícil calcular o retorno sobre o investimento nesse tipo de formação, devido à amplitude do tema e à impossibilidade de mensurar os resultados, acredito que ele seja sim muito vantajoso para todos envolvidos, e falo hoje sobre o lado do empregador. Justificando essa convicção, trago sublinhados dois pontos: a revolução da terceira idade por nós já vivenciada e a consequente longevidade laboral. Hoje, por exemplo, um trabalhador não-braçal pode viver até os 90 anos e desempenhar suas atividades tranquilamente além dos 60 anos, sem quaisquer prejuízos a si ou à produtividade da empresa. Professores, engenheiros, médicos, enfermeiros, executivos, gerentes de diversas áreas e vendedores técnicos, por exemplo, entram nesse time.

Antes se seguir, embarco outro aspecto fundamental no mercado de trabalho atual: a valorização das competências que envolvem relações humanas e o controle emocional. “As pessoas são contratadas pelas capacidades técnicas e demitidas pelas dificuldades de relacionamento” – aposto que você já deve ser ouvido isso alguma vez. Partindo dessa realidade, na qual desafios demandam flexibilidade e resiliência emocionais constantes, foco nos trabalhadores da faixa etária que nos interessa aqui, ou seja, aquele com mais de 50 anos. Sabemos que, além do conhecimento técnico e organizacional, eles acumularam com a idade e o tempo de profissão as fundamentais competências de relacionamento e maior equilíbrio emocional.  Isso se dá porque, com a idade, a maioria das pessoas aumenta seus índices de inteligência emocional.  E, dessa maneira, tal qual o vinho tinto, gerentes e diretores tendem a combinar características que os tornam ainda mais valiosos com os anos.

Entre os motivos que me levam a acreditar na vantagem em investir no PPA dos colaboradores, os primeiros deles são justamente a retenção e o engajamento de talentos. Penso que, ao contrário daquele modo de agir estúpido de demitir os funcionários com mais tempo de casa, manter profissionais competentes, adaptados à cultura organizacional e emocionalmente amadurecidos em funções-chave tende a ser um dos desafios dos recursos humanos e da alta direção de empresas num curto espaço de tempo aqui no Brasil. Desperdiçar profissionais competentes simplesmente por questão etária está, a meu ver, com os dias contados em empresas que desejam sobreviver e crescer. Manter na empresa esse perfil de colaborador é fundamental para a sustentabilidade e implantação de projetos, equilíbrio com gerações mais jovens e até mesmo manutenção de valores organizacionais.

Ajudar o trabalhador na meia-idade a buscar desenvolvimento pessoal, através da análise de sua carreira, da sua vida pessoal e do planejamento de seu futuro lhe permitirá compreender que o paradigma de aposentadoria antigo não responderá a seus anseios. Na preparação para aposentadoria, costuma-se despertar nos participantes essa visão mais global de suas vidas e o reconhecimento, muitas vezes desconhecidos, de suas competências profissionais e de quais são os pontos a desenvolver. É natural, em qualquer das linhas de preparação para aposentadoria, que se estimule a manutenção de uma vida ativa na terceira idade, quer seja na continuação da profissão atual, quer seja empreendendo ou no voluntariado. Na que sigo, por ter atendido como médico centenas de aposentados que não souberam encarar bem a transição profissional e acabaram adoecendo, reforço sempre as vantagens de se manter ativo e tento combater a “aposentadoria fracassada”, da qual a falta do sentimento de utilidade é um dos pilares. Também reforço aspectos de identidade pessoal, de convívio social e de desenvolvimento, os quais são mantidos ou aprimorados justamente na manutenção da vida profissional para além do tempo que alguém ou circunstâncias históricas sociais estipularam como o da validade laboral.

As pesquisas apontam que muitos dos profissionais brasileiros já encaram a aposentadoria de uma maneira diferente daquela do “descanso merecido”: 76% não desejam parar de trabalhar. Sendo assim, um estímulo organizacional através da educação pode reforçar essa tendência e colaboradores fundamentais podem continuar contribuindo de diversas formas.

Mas ao investir na preparação para aposentadoria dos colaboradores, não posso estar os empurrando para fora da organização? Acredito que não. A continuidade na mesma profissão e organização é uma tendência forte para trabalhadores que já poderiam se aposentar definitivamente. Isso porque, apesar do enorme desejo de empreender, de ser dono do próprio nariz, ou de mudar de profissão, a maior parte dos adultos na meia e terceira idades não fez a preparação para essas mudanças, que exigem mais do que a primeira hipótese – a da continuidade. Ao apostar na preparação para a aposentadoria, as chances de que o profissional continue por mais alguns anos são grandes. Basta indicar que ele é bem-vindo e necessário.

Além da retenção de talentos, investir em preparação para aposentadoria ajuda a reduzir o adoecimento comum em profissionais nos anos que antecedem o fim do ciclo profissional.  Esse é o segundo motivo que sustenta a convicção na vantagem dos PPA’s para os empregadores.  Ansiedade, depressão e altos níveis de estresse são presentes e costumam prejudicar a performance profissional e as relações. Quando o trabalhador está há menos de sete anos da aposentadoria e predomina a ambivalência quanto aos passos a serem tomados, com pressões internas e familiares muitas vezes desencontradas, é normal que o aspecto profissional seja seriamente comprometido. Em meio a essa situação, o trabalho pode ser considerado até mesmo como algo negativo e causador do desajuste. Logo, a preparação para a aposentadoria pode possibilitar que essa transição seja mais tranquila para o colaborador, ou posso dizer, menos perturbadora.

Há nesses profissionais que estão com problemas quanto ao planejamento de sua carreira situações que impactam negativamente na organização. Uma delas, por exemplo, é o desânimo em buscar aprimoramento profissional, cultivar boas relações ou mesmo propor mudanças em processos nos quais trabalha há anos e domina plenamente.

Finalizando, considero a possibilidade de reter talentos um argumento mais forte e de resultados mais robustos vindos dos PPA’s. E voltando a pensar um pouco na questão de como a preparação para aposentadoria influencia na carreia das pessoas, podemos, além de reter, transformar talentos, engajando-os ainda mais às organizações. Ao analisar a própria carreira, muitas vezes o profissional percebe que está há anos fazendo a mesma coisa, com potencialidades “adormecidas” ou a serem desenvolvidas. A análise 360º, por exemplo, em conjunto com experiências oferecidas pela empresa podem auxiliar na mudança profissional dentro da mesma organização. Exemplos de atividades que podem ser exercidas com maestria por colaboradores após os 50 anos são as de mentoria e de ouvidoria. Ano passado, em órgãos federais dos Estados Unidos, entrou em vigor uma experiência de transição para a aposentadoria justamente baseado na mentoria. Profissionais com idade de aposentadoria, usufruíam de uma carga horária reduzida, retribuindo com 20% da sua jornada para a capacitação e acompanhamento de colaboradores novatos.

Observando, percebo que o trabalhador que se prepara para a aposentadoria, dedicando tempo e esforço para tal, encara a vida de uma maneira diferente. Não é exagero dizer que, assim como quem passa por uma experiência de autoconhecimento, ele amadurece ainda mais. Sabe que terá que valorizar mais sua saúde, seus relacionamentos profissionais e familiares, seus momentos de diversão e organizar sua vida num planejamento. O que lhe satisfaz ou que lhe desagrada passa a ser de seu conhecimento e lidar com todos os aspectos analisados passa a ser de sua inteira responsabilidade.

Quem ganha com esse tipo de preparo? O trabalhador, sua família e a organização.

No entanto, é preciso adaptar-se aos profissionais na meia e terceira idades, mas isso é assunto para outro texto.

 

Abraços, Leandro Minozzo

 

 

Autor do livro: Não se Aposente – Sete Caminhos para Evitar uma Aposentadoria Fracassada

Link para o release do livro

 

 

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