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Acredite: não há saúde ou felicidade sem compaixão.

Na semana passada, tive uma grande oportunidade em minha vida: poder falar sobre a relação da compaixão com o adoecimento e o processo de cura. O evento marcava o encerramento da Semana de Valorização da Vida do CVV – uma ONG cuja missão é justamente  acolher pessoas com pensamentos e ideais suicidas. O trabalho deles é preciso e precioso. São bárbaros!

Há três anos, pude também participar desse evento. Na ocasião falei sobre a terapia do sentido da vida, a chamada logoterapia, desenvolvida pelo psiquiatra Viktor Frankl. Ao colocar o foco em emoções positivas, grupo do qual a compaixão ocupa posição de destaque, consegui fazer muitas associações com as ideias de Frankl e a um conjunto de ensinamentos e situações vivenciadas no consultório. Foi também impossível não pensar rapidamente sobre as doutrinas e religiões. Viktor Frankl, Carl Rogers e George Vaillant somam-se a todos os profetas das maiores religiões da humanidade no que tange à necessidade do ser humano sair de si e praticar a compaixão.

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Percebo que há algo despertando na medicina ou que deve ser despertado. Centros de vanguarda, como a Universidade de Stanford já sem mostram atentos e atuantes na abordagem da alma.  Por aqui, percebo que os pacientes não querem mais ser tratados como portadores de doença x ou y. A lógica “queixa-exames-tratamento” mostra-se incompleta frente a um mundo desafiador e desestruturador. Hoje, facilmente nos afastamos do humano (processo que chamamos de despersonalização) e, indo mais a fundo, não identificamos mais o divino que está em nós; isso se reflete, sem dúvida alguma, nas consultas médicas e na sociedade.

Sobre a compaixão, comecei a estuda-la recentemente, quando resolvi abordar emoções positivas nos pacientes com obesidade que desejam emagrecer e resgatar o bem-estar em suas vidas. Apesar de ter feito falas e estudos sobre inteligência emocional e empatia, não havia me dedicado especificamente à compaixão e à sua forma primordial, a autocompaixão. Posso dizer que, em relação aos pacientes com obesidade, tenho lhes prescrito muito menos dietas restritivas e muito mais reflexão, aceitação, gratidão e equilíbrio para aprendizagem com os próprios erros. Tenho me sentido muito mais “médico” agindo dessa forma.

Resolvi fazer uma síntese dos slides finais que apresentei para o público do CVV: ela traz o que há de pesquisas mais recentes relacionando compaixão, autocompaixão e cura de doenças. A maior parte dos estudos é de 2014 para cá.  Veja só o porquê dessa minha convicção de que o resgate do humano é fundamental para diminuir o adoecimento e possibilitar que a relação médico-paciente transforme a vida de todos:

  • Pessoas que praticam o voluntariado apresentam melhores índices de bem-estar, menos depressão e melhor controle de doenças crônicas;
  • Paciente oncológicos respondem melhor a condutas médicas relacionadas à compaixão;
  • Pacientes que foram confortados pelo anestesista no pós-operatório, curaram-se mais rapidamente: tiveram alta hospitalar mais cedo e usaram 50%  a menos analgésicos fortes – chamados narcóticos;
  • Treinamentos para aumentar a autocompaixão regulam o funcionamento do sistema nervoso parassimpático, modulando a variabilidade da frequência cardíaca;
  • Pessoas com autocompaixão elevada apresentam melhor cuidado com sua saúde (dieta, exercício físico e menos abuso de substâncias) e percebem-se de maneira mais positiva;
  • Há muitos estudos no campo da depressão, mostrando que a falta de compaixão e autocompaixão são fatores de risco para a doença e para a piora no tratamento;
  • Estratégias de aumento da autocompaixão mostram resultado na melhora dos sintomas em pacientes deprimidos;
  • A combinação entre autocrítica exagerada e baixa autocompaixão é associada ao risco aumentado para episódios recorrentes de depressão ao longo da vida;
  • Autocompaixão pode superar o forte impacto do estigma (autoestima) no tratamento da obesidade;
  • O senso crítico exagerado está relacionado ao risco maior para comer compulsivo (TCAP), bulimia e anorexia;
  • Bullying e outras formas de violência estão associadas à baixa compaixão;
  • Dependência digital – de redes sociais – é uma via de mão dupla para o adoecimento, uma vez que aumenta a autocrítica e reduz a compaixão;
  • A questão da violência digital hoje é um considerado um problema social e de saúde, uma vez que impacta negativamente na vida de crianças e adolescentes (EUA);
  • Diabéticos com níveis de autocompaixão elevados não sofrem tanto com o impacto do estresse (efeito “amortecedor” de sofrimento);
  • Em diabéticos, o treinamento com meditação para compaixão reduziu a hemoglobina glicada em 1% – resultado comparável à introdução de uma nova medicação para a redução da glicemia!

 

Espero que esses minutos de leitura tenham despertado a curiosidade e que leve contigo um recado necessário a todos nós, o da transformação.

 

Abraços e uma ótima semana,

 

Leandro Minozzo

Médico geriatra e professor de Espiritualidade e Medicina, na Universidade FEEVALE

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