Publicado em 3 de dezembro de 2019 às 6:47am
Na semana passada, tive uma grande oportunidade em minha vida: poder falar sobre a relação da compaixão com o adoecimento e o processo de cura. O evento marcava o encerramento da Semana de Valorização da Vida do CVV – uma ONG cuja missão é justamente acolher pessoas com pensamentos e ideais suicidas. O trabalho deles é preciso e precioso. São bárbaros!
Há três anos, pude também participar desse evento. Na ocasião falei sobre a terapia do sentido da vida, a chamada logoterapia, desenvolvida pelo psiquiatra Viktor Frankl. Ao colocar o foco em emoções positivas, grupo do qual a compaixão ocupa posição de destaque, consegui fazer muitas associações com as ideias de Frankl e a um conjunto de ensinamentos e situações vivenciadas no consultório. Foi também impossível não pensar rapidamente sobre as doutrinas e religiões. Viktor Frankl, Carl Rogers e George Vaillant somam-se a todos os profetas das maiores religiões da humanidade no que tange à necessidade do ser humano sair de si e praticar a compaixão.
Percebo que há algo despertando na medicina ou que deve ser despertado. Centros de vanguarda, como a Universidade de Stanford já sem mostram atentos e atuantes na abordagem da alma. Por aqui, percebo que os pacientes não querem mais ser tratados como portadores de doença x ou y. A lógica “queixa-exames-tratamento” mostra-se incompleta frente a um mundo desafiador e desestruturador. Hoje, facilmente nos afastamos do humano (processo que chamamos de despersonalização) e, indo mais a fundo, não identificamos mais o divino que está em nós; isso se reflete, sem dúvida alguma, nas consultas médicas e na sociedade.
Sobre a compaixão, comecei a estuda-la recentemente, quando resolvi abordar emoções positivas nos pacientes com obesidade que desejam emagrecer e resgatar o bem-estar em suas vidas. Apesar de ter feito falas e estudos sobre inteligência emocional e empatia, não havia me dedicado especificamente à compaixão e à sua forma primordial, a autocompaixão. Posso dizer que, em relação aos pacientes com obesidade, tenho lhes prescrito muito menos dietas restritivas e muito mais reflexão, aceitação, gratidão e equilíbrio para aprendizagem com os próprios erros. Tenho me sentido muito mais “médico” agindo dessa forma.
Resolvi fazer uma síntese dos slides finais que apresentei para o público do CVV: ela traz o que há de pesquisas mais recentes relacionando compaixão, autocompaixão e cura de doenças. A maior parte dos estudos é de 2014 para cá. Veja só o porquê dessa minha convicção de que o resgate do humano é fundamental para diminuir o adoecimento e possibilitar que a relação médico-paciente transforme a vida de todos:
Espero que esses minutos de leitura tenham despertado a curiosidade e que leve contigo um recado necessário a todos nós, o da transformação.
Abraços e uma ótima semana,
Leandro Minozzo
Médico geriatra e professor de Espiritualidade e Medicina, na Universidade FEEVALE