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Aposentadoria Fracassada: Guarde Esse Conceito

Imagine seu caso em especial. Quais 3 situações que jamais você desejaria para sua aposentadoria?

Sobre o termo, aposentadoria fracassada, que é de facílima compreensão, lembro que dele surgiu a ideia de começar a estudar sobre o assunto e, por consequência, a ministrar as primeiras palestras. Eu o costumo utilizar na lista de problemas durante as anamneses – as entrevistas médicas – dos pacientes no consultório. O que eu via como aposentadoria fracassada? Muito longe do mero aspecto financeiro, eu via pessoas deslocadas. Talentos adormecidos por força burocrática ou por crenças erradas. Desperdício. Vazio existencial. E, na medida em que passei a atender pessoas que vivenciam sua aposentadoria de maneiras extremamente positivas, esse diagnóstico de aposentadoria fracassada foi tornando-se mais claro e mais preciso. Há sim formas boas de encarar a aposentadoria, formas não tão boas, porém, que não causam tanto sofrimento, e há a forma ruim – aquela que reflete problemas pré-aposentadoria e/ou causam problemas após o fim da vida profissional.

Fui ao Google procurar sobre o termo “aposentadoria fracassada”. Não encontrei nada na nossa língua. Fui para o inglês e pude, então, deparar-me com “retirement regrets and mistakes” (arrependimentos e erros na aposentadoria). Em muito, eles se assemelham às características da aposentadoria fracassada, que se seguem.

 

E a aposentadoria é mesmo uma fase da vida complicada e exigente. Basta qualquer um desses itens estar presente que a qualidade de vida de quem se aposenta fica em cheque. Quando dois, dificilmente haverá qualidade de vida suficiente.

Ao contrário do que o senso comum possa trazer, o primeiro item que caracteriza a aposentadoria fracassada não é o dinheiro, mas a redução no convívio social. Situação essa que pode ser ainda mais agravada quando outra característica do fracasso na aposentadoria acontece, que é a piora nos relacionamentos familiares. A restrição da vida ao aposento, como queria Bismarck, nos apequena como seres humanos e, além disso, nos expõe a atritos familiares constantes. Muitos lares acabam vivendo à beira de uma explosão, bastante apenas uma mínima faísca para brigas tomarem vez. Sem esquecer de tudo o que a solidão e o isolamento podem também causar.

Outra característica da aposentadoria fracassada, que costuma ser inversamente proporcional à idade em que se para de trabalhar, é a falta de sentimento de utilidade. É horrível e preocupante esse sentimento em qualquer idade, porém, ele é ainda mais grave em pessoas em plena saúde e disposição mental. Uso o termo horrível porque o sentimento de inutilidade desestabiliza a psique, tanto que em testes para rastreio de depressão, ele está presente em todos. Isso quer dizer que quando um adulto na meia ou terceira idade afirma que se sente inútil, as chances dele apresentar um transtorno de humor são significativas.

Seguem como características da aposentadoria fracassada dois tipos de sedentarismo: o físico e o mental. Aquele que não faz nada, só fica em casa olhando televisão, futricando na timeline do Facebook, que não gosta de ler, não faz cursos e passa grande parte do dia sentado definitivamente não vive a aposentadoria da forma mais adequada. Voltando ao Bismarck, para aquela época, na qual o benefício servia para que os idosos esperassem a morte em casa, talvez haveria espaço para viver a vida assim. Mas nos dias de hoje, há zero espaço para isso. Não. Não estou sendo muito exigente. Basta lembrarmos dos diversos problemas que logo se instalarão na vida de quem adota o sedentarismo físico e mental. Calma, claro que ficar como os jovens dizem “de bobeira” ou como Domenico De Masi diz no “ócio produtivo” deve sim fazer parte do nosso dia. O que trago como problemático é o viver dessa maneira sempre.

Continuando, é claro que o descontrole financeiro, o viver correndo atrás ou passando necessidades também sinaliza uma aposentadoria fracassada. Há, para a maioria, uma redução nos rendimentos, que com inflações específicas – como a da saúde, que é maior do que a geral – acabam tendo poder de compra ainda menor com o passar dos anos. Poupança, casa-própria, entrar na aposentadoria sem dívidas e não recorrer a empréstimos, ter um plano de saúde ou reserva estratégia para essa finalidade são requisitos mínimos para uma tranquilidade nessa fase da vida. Quaisquer situações de vulnerabilidade financeira são naturalmente muito valorizadas pelos aposentados e têm impacto significativo na redução da qualidade de vida.

Acho interessante comentar uma pesquisa feita por telefone com 1001 adultos entre 44 a 71 anos, nos Estados Unidos, cujo resultado mostrou que 61% dos entrevistados temiam mais ficar sem dinheiro na aposentadoria do que a própria morte. O medo de ficar pobre na aposentadoria superou o de morrer!

Por último, como indicador de uma aposentadoria fracassada trago a lamúria. Com todo o respeito, e mesmo me considerando um médico bastante sensível com viés humanista, conviver com pessoas lamuriantes é muito chato. No consultório, encaro a lamúria como escudo, casca ou algo do tipo e tento conhecer quem está por trás e os motivos que a trazem à cena. Mas, para quem não tem essa vocação clínica, os familiares ou amigos por exemplo, o que a lamúria provoca é uma natural repulsa. Ninguém gosta de quem só reclama.

Incluí esse estilo de vida e de discurso, de queixar-se sempre, como uma característica da aposentadoria fracassada justamente por ser um sinal muito óbvio de desajuste e porque ele por si só causa prejuízos diretos em domínios fundamentais para o bem-estar, como relacionamentos familiares e sociais. Outro aspecto que envolve a lamúria diz respeito a um conceito da psicologia chamado locus de controle. O lamuriante costuma ter deslocado o locus de controle, ou o lugar da responsabilidade sobre sua vida, para fora de si. Como diz a letra do Lulu Santos, ele sobra de vítima das circunstâncias. Ora, uma pessoa que não toma para si a responsabilidade sobre seus atos dificilmente enfrentará bem um momento de forte estresse que é a aposentadoria e não tomará as atitudes necessárias para enfrenta-la.

Não posso precisar quais foram as três situações das quais você pretende se ver distante na aposentadoria, mas garanto que essas abaixo serão incluídas na próxima vez que te repetirem a pergunta:

  • Redução no convívio social;
  • Piora nos relacionamentos familiares;
  • Falta do sentimento de utilidade;
  • Sedentarismo físico e mental;
  • Descontrole financeiro;
  • Lamúria.

 

Abraços,

Leandro Minozzo

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