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Canabidiol e Alzheimer: Atenção às Interações Medicamentosas

Olá! Um dos assuntos mais comentados no cuidado em Alzheimer é o uso ou não do canabidiol. Sempre que abordo esse tema, reforço um ponto importante: as principais diretrizes que guiam o tratamento da doença ainda não indicam o uso do medicamento. A possibilidade existente se dá em casos pontuais, quando outras medidas não conseguem mais ajudar nas difíceis alterações psicológicas e comportamentais típicas da doença – refiro-me aqui à agitação, à agressividade, aos sintomas da síndrome do pôr-do-sol, entre outras manifestações. Para os casos inicias da demência ou para a estabilização ou reversão nos aspectos cognitivos e funcionais ainda não há qualquer evidência convincente que indique o uso. Em medicina e, em especial, na geriatria, além do olhar integral do paciente e de sua família, é importante considerar sempre, além das evidências de benefício, os riscos aos quais o paciente ficará exposto com a prescrição. Escrevo esse breve artigo informativo justamente para reforçar alguns pontos sobre a segurança do uso do canabidiol. Dessa forma, fica bastante lógico que, assim como outros medicamentos prescritos para idosos, jamais se deve iniciar um tratamento sem uma avaliação médica detalhada.

Hoje, falo sobre algumas interações farmacológicas do canabidiol com medicamentos frequentemente utilizados por idosos. Inicialmente, é importante destacar que esse canabinoide apresenta uma ligação com alta com proteínas plasmáticas, o que pode competir com outros fármacos com essa mesma característica. Aqui, destaco os quatro primeiros fármacos da lista, que justamente podem interagir com o canabidiol pela competição na ligação de proteínas plasmáticas:

Levotiroxina (para o tratamento do hipotireoidismo);

Fenitoína (para epilepsia);

Ácido valpróico (para epilepsia, transtorno de humor bipolar e dor);

Varfarina (anticoagulante).

Outro mecanismo pelo qual o canabidiol pode interagir com fármacos é através da indução ou inibição da ação de enzimas hepáticas, como as do citocromo P450 e a UGT. O canabidiol é metabolizado pelas enzimas CYP3A4, CYP2D6, CYP2C9 e CYP2C19. Um exemplo clássico de interação do canabidiol é com o clobazam (um benzodiazepínico com ação anticonvulsivante). O uso concomitante produz um aumento de até 3 vezes na concentração plasmática do metabólico ativo do clobazam, tornando a redução da dosagem extremamente necessária.

Continuo com a lista de com fármacos que podem ter seus níveis plasmáticas alterados ou seus efeitos potencializados ou inibidos pelo uso concomitante do canabidiol:

Aminofilina (para doenças respiratórias);

Amiodarona (para arritmias);

Carbamazepina (para dor, epilepsia e alterações de humor);

Clonidina (para a hipertensão arterial);

Clindamicina e azitromicina (antibiótico);

Clomipramina (antidepressivo);

Dabigatrana (anticoagulante);

Doxepina (antidepressivo e antialérgico);

Imipramina (antidepressivo);

Nortriptilina (antidepressivo);

Fenobarbital (anticonvulsivante);

Pregabalina

Algumas estatinas (para dislipidemia);

Opióides morfina, quetamina e buprenorfina (analgésicos);

Antialérgicos;

Antifúngico cetoconazol;

Antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina (escitalopram e sertralina) e dual (duloxetina);

Ansiolítico benzodiazepínico – alprazolam;

Alguns anestésicos sistêmicos, quimioterápicos e imunossupressores (muito usados após transplantes).

 Nem sempre a possibilidade de interação farmacológica impede que o uso concomitante seja feito, no entanto, é fundamental que o acompanhamento seja feito com mais atenção. Em alguns casos, como nos fármacos que aumentam o risco de quedas, por exemplo, a supervisão deve ser frequente e o ajuste de doses pode ser útil. Os estudos apontam que a ação do canabidiol nas enzimas hepática é dose-dependente, ou seja, ocorre com mais intensidade quando há o aumento na dosagem.  

 Assim como outros médicos que estudam o Alzheimer, aguardo pesquisas em andamento sobre o uso do canabidiol ou outros canabinoides para o tratamento dessa doença complexa. Quem sabe, teremos mais uma opção para o manejo de casos complicados. Os estudos publicados no último ano, apesar das possibilidades de interações descritas acima, mostram que o uso do canabidiol em idosos é seguro. Sobre a posologia do medicamento (quantidade e frequência da administração), ainda esperamos mais estudos que reforcem o uso seguro e, ao mesmo tempo, com resultados. Em idosos, em especial aqueles com fragilidade e/ou com a doença de Alzheimer, é muito importante que o uso seja supervisionado, lembrando que efeitos adversos podem acontecer, causando prejuízo ao idoso e confundindo a avaliação clínica.

Por fim, a dica que deixo é justamente a de levar bastante a sério esse assunto e buscar avaliação com médicos antes de começar a administrar uma substância que, sim, pode, em especial em doses mais elevadas, causar interações.

Não. Ainda não é pra sairmos dando canabidiol para todas as pessoas com Alzheimer. Estamos muito distantes disso.

Abraços, Leandro Minozzo

-> Observação importante aos profissionais de saúde que lerem o texto: a lista de interações está resumida. Sugiro que busquem as referências adequadas para verificar suas dúvidas.

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