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Envelhecer com Dignidade

Há poucas semanas fui convidado para dar uma palestra motivacional para uma plateia de idosos. A organizadora do evento solicitou que eu tratasse do tema dignidade, sugerindo o título “Envelhecer com Qualidade de Vida e Dignidade”.  Na verdade, nunca havia tratado desse tema diretamente, mas aceitei o desafio prontamente.

Motivar idosos a seguir hábitos saudáveis, como dormir bem, alimentar-se corretamente e praticar exercício físico é meu dia-a-dia de trabalho. Exemplos e dicas vêm facilmente ao se planejar uma atividade como esta. Geralmente eu me empolgo tanto que acabo extrapolando o tempo combinado. Tento também dar um enfoque nos aspectos psicológicos, na prevenção de depressão, no estímulo cognitivo e na inteligência emocional  – até aí tudo bem.  Só que o que dizer sobre envelhecer com dignidade?

Sempre ouvi dos idosos que eles são desrespeitados, que nossa sociedade não oferta condições de saúde, lazer ou educação. Que na Europa ou no Japão as coisas são diferentes em termos de respeito à opinião do idoso dentro do ambiente familiar ou mesmo da comunidade.  Acho que tanto eu, como você, concordamos com isso. É fato.  Sabemos dessas dificuldades todas aqui vividas e de como é diferente nesses lugares. Costumo dizer que a atual geração de idosos no Brasil paga um preço alto por ser a de pioneiros no envelhecimento. Nunca se viveu tanto e nunca foram tantos idosos no país. Só que procuro usar esse pioneirismo e suas consequentes dificuldades não para sustentar as queixas dos idosos, mas para despertar o senso de responsabilidade deles com as futuras gerações de idosos – eu e seus netos. A sociedade das futuras gerações de idosos depende e muito do que os idosos de hoje conquistam e reivindicam. Aí se apresenta, a meu ver,  a questão do envelhecimento com dignidade.

Se pararmos para pensar um pouco, a perspectiva para os idosos de muitos países europeus e do Japão é melhor, eles aparentemente vivem sua velhice com maior dignidade. Falando do Japão, não podemos desconsiderar o momento histórico das diferentes sociedades. No Japão, os idosos somam 30% da população, enquanto aqui, aproximadamente, 12%. Esse respeito e dignidade não caíram do céu, eles foram conquistados ao longo de décadas. Lá, aspectos religiosos e políticas públicas facilitaram essas conquistas.  (Se bem que na questão religiosa, a Bíblia também diz para honrarmos pai e mãe e leis aqui é o que não nos falta…)

Hoje, no Brasil, esses quase 12% da população representam mais de 21 milhões de idosos e a tendência é de um crescimento muito maior, já para um curto espaço de tempo. Conseguimos envelhecer nossa população e algumas conquistas importantes como o Estatuto do Idoso (2003) e o fortalecimento dos grupos de idosos pelo país afora.  Temos um número enorme de idosos extremamente ativos, ocupando lugares de destaque em diversos campos, inclusive temos uma presidenta idosa e um vice-presidente idoso. Mas, qual o próximo passo para se atingir o patamar espelhado nos países onde se respeita e valoriza os idosos?

Envelhecer com Dignidade.

Zilda Arns - Exemplo de Envelhecimento com Dignidade

Dignidade não é simplesmente receber respeito e valor, é receber esse respeito e valor por merecimento.

Envelhecer com dignidade é, a meu ver, assumir seu papel social, evitar a lamúria, manter-se saudável, lutar pelos seus direitos, ter coragem, tentar e estar aberto a mudar de ideias e tolerar diferenças. É fazer-se exemplo.

Se pararmos um pouco e analisarmos as características e os graves problemas que assolam nossa sociedade, logo cairá de maduro do que ela necessita.

Quando falo dessas características e problemas, estou ciente de que muitas são até determinado ponto necessárias e os problemas de difícil solução. Falo do individualismo, consumismo e competitividade implacáveis; da liquidez nas relações pessoais e de trabalho; da falta de cuidado; da perda de referenciais, manifesta pela necessidade de coaching para quase todas as funções da vida. Falo da epidemia do excesso de peso nos adultos e nas crianças, que apontam para uma falta clara de imposição de limites; do consumo de drogas, representado pelo flagelo de 1 milhão de usuários de crack pelo país. Falo do adoecimento precoce das pessoas, vitimadas pelo estresse massacrante em todas as fases da vida, em todas as classes sociais, em tudo que é lugar. Falo da arrogância e desconsideração nas relações humanas, como se as pessoas reais não fossem importante.

Pense comigo, do que nossa sociedade mais precisa? Seria de um PIB maior? De um crescimento econômico chinês? De novos Eike Batista’s? Acho que não.

Nossa sociedade precisa urgentemente de experiência, de cuidado, de pessoas dispostas a ouvir, a tranquilizar. Precisamos de pessoas que ensinem tolerância com os outros e com os nossos próprios erros. Precisamos de pessoas com coragem para ponderar essa educação precária que estamos dando nas escolas e, principalmente, nos lares.

Precisamos de idosos saudáveis e corajosos.

Um marco relacionado à dignidade da terceira idade é o Estatuto do Idoso, que completará 10 anos. Trata-se de um documento que demorou 20 anos para ser elaborado.  Ali está o norte para como o Estado e sociedade devem tratar os idosos. Como vimos antes, dignidade é fazer por merecer, é ir atrás. Infelizmente, nessa palestra, que contava com um público superior a 300 pessoas, apenas 2 idosos haviam lido o Estatuto, apesar de todos reclamarem das dificuldades e falhas do Estado em atende-los adequadamente.

Chegou a hora de ir um pouco mais além. Fácil não vai ser. É preciso organização, união apartidária e estudo. Mas, de novo, precisamos urgentemente de idosos saudáveis e corajosos. 

“O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.”

João Guimarães Rosa

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3 Comentários

  1. Cidinha Fernandes

    Olá Dr leandro,
    Sua reflexão provoca uma grande inquietação e nos mostra que há muito por fazer…Vamos em frente.
    Parabéns!

    Abraço

  2. MARIA ELISABETE_

    Olá Dr.Leandro!
    Quero desde de já parabeniza-lo por sua iniciativa, estou grata por sua orientação. Sou coordenadora de uma casa de repouso, onde estão hospedados 60 idosos e estou concluindo uma especialização em Gerontologia, minha monografia tem como tema envelhecer com dignidade. Sinto dificuldade de encontrar material para este tema então por gentileza o que poder enviar de material para meu e-mail ficarei muito feliz e grata.
    Mais uma vez Parabéns!

  3. rafaela craveiro

    Desde ja quero lhe parabenizar por tanta informaçao importante que me ajudou muito no meu trabalho tenho um ano de serviço social e pretendo em breve defender a minha tese sobre o idoso e preciso de materiais que sobre esse assunto nao encontramos muito se puder enviar material que fale sobre idoso agradeço ja quero desde ja me preparar para o grande momento, parabens…

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