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Não há tratamento para a Doença de Alzheimer?

Sabemos que, até agora, a doença é incurável. Uma vez estabelecido o diagnóstico, a progressiva perda de capacidades mentais e funcionalidade no dia-a-dia é o triste destino esperado. Difícil para o paciente, mais ainda para seus familiares e cuidadores. Para nós, médicos e profissionais da saúde, talvez seja uma das doenças que mais exige tratamento e visão humanista. Como assim: para que tanto tratamento se não há cura? Surpreenda-se, há, sim, muito o que se fazer. Refiro-me a medicações para desacelerar a perda funcional e alterações de comportamento, prevenção em todos os níveis e uma quantidade e variedade enorme de cuidados.

Os desafios no tratamento de um paciente e de uma família com a Doença de Alzheimer começam já quando se estabelece o diagnóstico. Nem sempre é fácil, precisamos realizar exames, descartar outras enfermidades, retirar medicações, testar algumas outras até que digamos, geralmente com palavras amenas porém pesadas, que se trata de um caso da doença. É normal esperarmos a famosa negação, assim como visitas a diversos outros especialistas. Muitas vezes, costumo já indicar colegas para que, caso queiram, busquem uma segunda opinião. Não se admite mais posturas diferentes dessa – deve-se permitir à família a dúvida e indicar como resolvê-la. De vez em quando, essa questão de reafirmar o diagnóstico persiste por bastante tempo, sendo necessário que a ela voltemos. Não é dúvida quanto à capacidade do médico, é o próprio fardo da doença, que cansa, desampara e confunde.

Continuando a lista de desafios que a situação impõe, basta lembrarmos que um paciente idoso geralmente costuma apresentar diversas outras doenças, usa muitas medicações – o que chamamos de polifarmácia –  e necessita de cuidados. No caso de um paciente com demência, esse quadro costuma ser ainda mais desafiante. Hipertensão arterial, diabetes, quedas, desnutrição, insônia são comorbidades muito comuns, exigindo atenção a interações medicamentosas e outros riscos. Outra situação comum é a presença da síndrome da fragilidade, quando o idoso perde peso, funcionalidade, começa a ter dificuldades de locomoção – como a denominação aponta, encontra-se frágil, suscetível a infecções, quedas e à morte. Imagine, em meio a uma situação dessas, a família angustiar-se pelo fato do patriarca não mais reconhecer os filhos. O que fazer?

Alimentação, exercícios físicos, estímulos cognitivos, manejo de riscos, questões burocráticas, tratar alterações de humor e comportamento, realizar testagens periódicas, garantir a adesão aos tratamentos propostos são desafios que se seguem. Destaco, no entanto, a necessidade contínua de educação dos familiares sobre a doença – do momento do diagnóstico, passando pelo momento de colocar um cuidador em casa ou auxiliando a colocar num lar até o momento de tomar medidas nos dias finais. É Alzheimer, então vocês devem saber isso e aquilo. O cuidado agora precisa ser intensificado, é melhor colocar alguém em casa mesmo sua mãe sendo resistente. Não vejo necessidade de colocarmos seu pai numa UTI, o mais digno é continuarmos com medidas de suporte.  Tudo isso é tratar a doença de Alzheimer. É muito mais do que escolher uma ou outra medicação e deixar o peso todo recair sobre a família.

O doente não te recordará na próxima consulta, porém seus familiares jamais te esquecerão.

Não há cura. Mas há muito tratamento.

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