Para quem cuida de uma pessoa com a doença de Alzheimer, o bem-estar mental sempre exigirá um grande e constante esforço. Para cuidar bem, é preciso estar bem; é preciso cuidar de si! No dia a dia do consultório, atendo pacientes com a doença de Alzheimer e seus familiares e tenho percebido claramente o quanto essa missão de cuidar pode ser desafiante. Sem preparação, pode até comprometer a qualidade de vida de todos envolvidos. Assim como os pacientes, os cuidadores são precisam de suporte e muita orientação especializada.
E por que cuidar de alguém com Alzheimer gera tanto desgaste? Primeiro, as características da doença demandam muita paciência e perseverança aos cuidadores. Segundo, trata-se de um cuidado quase contínuo. Para se ter idéia, pesquisas indicam a necessidade de tempo de dedicação entre 280 a 470 horas mensais nas fases moderada ou grave. Conheço muitos casos nos quais toda essa carga recai somente sobre uma pessoa! Uma das consequências naturais disso é que após meses vivenciando essa situação, 40% dos cuidadores adoecem, desenvolvendo depressão. Nesse estágio, ele fica impossibilidade de manter sua função, além, é claro, de perder a saúde.
Veja qual é o impacto desse desajuste:
Como seres humanos, temos uma grande capacidade de responder a um evento estressante. Mobilizamos todo organismo para enfrentá-lo, porém, conseguimos suportar essa situação apenas por determinado tempo. Quando há uma sobrecarga constante, pioramos nossa qualidade de vida e acabamos por adoecer.
Ao revisar a literatura, concluí que cuidar de alguém com Alzheimer geralmente gera problemas de saúde. O estresse do cuidador ocasiona aumento nos casos de:
- Depressão (atinge até 40% dos cuidadores);
- Ansiedade;
- Insônia;
- Sentimento recorrente de culpa;
- Perda de capacidade de sentir prazer e relaxar;
- Piora em concentração;
- Ganho ou perda de peso;
No Brasil, recentemente, em 2015, foi publicado um levantamento feito com cuidadores de pessoas com Alzheimer. Os autores concluíram que quem cuida apresenta risco:
- 2 vezes maior para depressão;
- 2,1 vezes maior para diabetes;
- 58% maior para hipertensão arterial;
- 64% maior para insônia;
- 70% para dor.
Como fica evidente, as consequências do estresse do cuidador não se restringem a queixas apenas de caráter psicológico. Elas afetam, e muito, a saúde global de quem cuida. Em termos de doenças cardiovasculares, está comprovado que o cuidado de pessoas com Alzheimer pode aumentar a pressão arterial, favorecer o surgimento de placas de gordura nas artérias e até mesmo um “engrossamento” do sangue, facilitando casos de isquemia.
Em breve, lançarei em parceria com o CONAZ, um e-book sobre esse assunto. Ficou um material simples, organizado e feito com carinho para leitores que precisam de muita força e amparo.
Abraços, Leandro Minozzo