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Universidades Abertas da Terceira Idade: Fábricas de Sorrisos

A partir da década de 60, deu-se na Europa, um movimento de aproximação entre universidades e a comunidade.  Com o avanço da educação para adultos na França, aliado à necessidade crescente de ocupar e educar idosos, esse movimento além-muros frutificou, em 1973, na criação da primeira universidade da terceira idade do mundo, na cidade de Toulouse.

Diferentemente do que possa se imaginar ao ter contato inicial com o nome desse tipo de projeto, o objetivo dos programas de universidade da terceira idade não é o de oferecer um curso superior, muito menos de pós-graduação para idosos. Eles têm por metas proporcionar um ambiente pedagógico vivencial, interativo e com conteúdo voltado para a capacitação de idosos em diversas áreas do saber, desde o autocuidado até as artes. No caso do programa pioneiro na França, seus objetivos apontavam justamente isso: “tirar os idosos do isolamento, propiciar saúde, energia e interesse pela vida e modificar sua imagem perante a sociedade.”

Pela mencionada necessidade de aproximação entre universidade-comunidade, somada à demanda reprimida de ações educativas para a terceira idade e às características psicossociais próprias dessa fase da vida (gosto pelo convívio, participação nas aulas e disciplina), os programas logo mostraram excelentes resultados e se espalharam pelo continente europeu. Em 1975, foi criada uma associação internacional das entidades (AUITA). Em 1981, ela contava com 170 instituições. Número que em 1999 já atingia as 5 mil! Com a estruturação desses programas, muitos adquiriram vocações novas como centros de referência em educação e pesquisa em gerontologia.

Hoje, são milhares desses programas pelo mundo. Muitos até sem o vínculo com instituições de ensino superior, desenvolvendo-se como uma forma mais avançada de grupos de convivência. Há, inclusive, universidades da terceira idade acessíveis através da internet.

No Brasil, destaca-se o pioneirismo do SESC de São Paulo na educação de idosos na perspectiva “ao longo da vida”, através de projetos que remetem às décadas de 60-70. Em se tratando de instituições de ensino superior, a UFSC carrega para si o pioneirismo no início da década de 80. Atualmente, no país, contamos com mais de 200 programas semelhantes ao programa francês.

O Estatuto do Idoso é atento à importância da educação e da adaptação de práticas educativas. O Estatuto se mostra brilhante  e visionário em seu artigo 25, que diz: o Poder Público apoiará a criação de universidade aberta para as pessoas idosas e incentivará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e padrão editorial adequados ao idoso, que facilitem a leitura, considerada a natural redução da capacidade visual.

Dentro dos estímulos respaldados pela legislação, temos também a questão do fomento: esses programas são passíveis de caracterização como filantropia. A lei reconhece na educação e assistência aos idosos uma prioridade para ações dessa natureza. Há ainda uma terceira via legal de estímulo à criação de universidades abertas da terceira idade que é o fundo do idoso, porém é uma via ainda embrionária e de fluxo burocrático carente de agilidade.

Pessoalmente, em 2009, tive a felicidade de desenvolver e apresentar um projeto adaptado à realidade do centro universitário no qual dava aula. Felizmente, os irmãos lassalistas deram apoio e o projeto pode ser instalado no ano seguinte, estruturando-se. Acredito que tenha sido uma das grandes experiências transformadoras vividas por mim até hoje. O ganho no dia-a-dia das aulas e o retorno em termos de desenvolvimento dos alunos são impressionantes, algo que supera o entendimento saúde-doença, tratamento-resposta e capacidade de cura.

Essa percepção de melhora na qualidade de vida de idosos participantes desses programas encontra amplo respaldo na literatura científica. Melhora em humor, capacidade cognitiva, satisfação com a vida, entre outros benefícios.

Hoje, merece destaque a Universidade Aberta da Terceira Idade (UNATI), da UERJ. Além do viés de educação para idosos, o programa contempla educação e pesquisa em gerontologia.

Como em toda atividade educativa de qualidade, para o sucesso de uma universidade da terceira idade há a necessidade de um planejamento pedagógico rigoroso, qualificação dos docentes, avaliação, interação e participação dos alunos e da comunidade. Tenho ainda a esperança de implantar dois desses programas em comunidades carentes de Canoas e de Novo Hamburgo. (Infelizmente, a maior parte dos idosos das classes sociais C e D não tem acesso a esse tipo de iniciativa.)

Se hoje, alguém me perguntar o segredo para viver bem, durante muitos anos, não tenho a menor dúvida em dizer: aprenda sempre. As universidades da terceira idade são o caminho para o envelhecimento bem-sucedido.

Abraços,

Leandro Minozzo

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