Publicado em 10 de agosto de 2015 às 12:59pm
Com o assustador aumento nos casos de obesidade, diabetes e deficiência de testosterona, pesquisadores têm buscado compreender como se relacionam essas condições e quais as melhores opções terapêuticas. O artigo de hoje trará um conceito relativamente novo na literatura de saúde brasileira: o MOSH.
Provavelmente você associe MOSH à dança em roda das festas punk ou de heavy metal, ou aquele salto que cantores fazem, sendo recebidos nos braços de sua plateia. Porém, trata-se de um acrônimo do inglês (Male Obesity-associated Secondary Hypogonadism) que nada tem de festivo. É o hipogonadismo secundário masculino relacionado à obesidade – na tentativa de facilitar ainda mais a compreensão: “uma andropausa causada pela obesidade” – deixo assim.
Hoje, sabemos que existe um ciclo metabólico vicioso que envolve a baixa produção de testosterona pelas células de Leydig (nos testículos), o aumento na gordura visceral e seus produtos inflamatórios tóxicos, a alteração no sono, a resistência à insulina e à leptina e o descontrole do eixo hipófise-hipotálamo – que controla a produção hormonal em nível central. Falo em ciclo porque cada um desses fenômenos potencializa os de mais. O conceito de MOSH é interessante e útil – e tende a se tornar corriqueiro – porque atribui à obesidade a sua real importância como causadora de carências das quais os homens na meia e terceira idade se ressentem: disposição e força física, energia, controle emocional, libido e vigor sexual. Existem, é claro – e deixo disponível outros textos sobre o assunto -, diversas causas “clássicas” da andropausa (hipogonadismo). Posso mencionar que o próprio envelhecimento em alguns casos é uma delas, assim a sobrecarga de ferro, as lesões ou doenças testiculares e distúrbios em outros hormônios, como os da tireoide. No entanto, no estágio de compreensão atual, sabemos que a obesidade afeta diretamente a saúde do homem prejudicando o funcionamento testicular e das regiões cerebrais encarregadas de administrar níveis de testosterona. Quando da presença da dupla obesidade e diabetes, os impactos são ainda mais claros e maiores.
E as estatísticas apontam claramente para essa associação. Segundo pesquisa americana, 40% dos obesos com mais de 45 anos de idade apresentaram hipogonadismo; naqueles com obesidade + diabetes, chegou-se a metade (50%!).
Ao iniciar os estudos sobre metabolismo masculino em 2009, deparei-me com posicionamentos questionando a andropausa e sua “medicalização”, afinal, seria uma condição normal do envelhecimento. Poderia haver pressão da própria indústria farmacêutica nesse ponto. Hoje, porém, esses argumentos questionando o DAEM são mais difíceis de se sustentar. E, no caso do MOSH, não há nada de normalidade, nada que remeta a um estado de saúde ideal. São homens jovens (até mesmo com menos de 40 anos), com obesidade, muitas vezes já pré-diabéticos ou diabéticos, com grande dificuldade em retomar ou conquistar um estado satisfatório de saúde.
Nesse novo cenário, com a crescente segurança no tratamento do hipogonadismo masculino e as pesquisas mostrando que ele auxilia esses pacientes a perderem peso e melhorarem seu perfil metabólico, acredito que a investigação das sinais e sintomas e a avaliação laboratorial criteriosa podem ajudar e muito no resgate de saúde desses homens. Segundo pesquisas recentes, a terapia de reposição de testosterona, num período de 6 anos, esteve associada à perda ponderal (variando entre 16 a 23% do peso proporcional ao nível de obesidade), à diminuição da circunferência abdominal (10 a 15 cm) e ao melhor controle glicêmico (redução em 1,9% no nível de hemoglobina glicada). Um aspecto importante que o tratamento possibilita é justamente o que falta e muito nesses pacientes: vigor e motivação.
Engana-se, no entanto, quem acha que a única solução mágica seja tentar corrigir todo o ciclo vicioso focando em apenas uma de suas variáveis – apenas a reposição. O exercício físico, a regulação do sono e a perda de peso, por mudarem o metabolismo e diminuírem as citocinas e sinalizadores que causam a disfunção hormonal, cursam com o aumento nos níveis de testosterona. Um exemplo é melhora no hipogonadismo em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica.
Voltando agora ao MOSH, segundo os critérios apresentados por Aftab, Kumar e Barber (2013), seu diagnóstico pode ser feito quando os seguintes critérios clínicos estiverem presentes:
Deixo, por fim, as ideias de que existe uma relação muito próxima entre obesidade (e todo o estilo de vida sedentário que a maioria de nós leva) e uma redução patológica nos níveis de testosterona; que o conceito MOSH será útil para impulsionar o diagnóstico dessas alterações hormonais em homens que estão sob risco e até então não eram investigados; que o tratamento com a reposição com testosterona pode vir a ajudar os obesos com hipogonadismo a melhorarem seu metabolismo, qualidade de vida e, indo diretamente ao ponto, ao que mais querem e não conseguem, perder e manter um peso saudável. Apesar de ser um assunto muito promissor, deixo claro que não há mágica e a não há a indicação universal.
Em breve, volto a escrever sobre o tema.
Grande abraço, Leandro Minozzo
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Sugiro os artigos:
Referências:
Calderón B1, Effects of bariatric surgery on male obesity-associated secondary hypogonadism: comparison of laparoscopic gastric bypass with restrictive procedures. Obes Surg. 2014 Oct;24(10):1686-92.
Saad F1, Yassin A2, Doros G3, Haider A3.Effects of long-term treatment with testosterone on weight and waist size in 411 hypogonadal men with obesity Classes I-III: Observational data from two registry studies. Int J Obes (Lond). 2015 Jul 29.