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Prevenção da Doença de Alzheimer: Perspectivas para um Futuro Breve

Nos últimos anos, alguns exames vêm ganhando espaço no diagnóstico precoce das alterações relacionadas à Doença de Alzheimer. Entre eles temos a coleta e análise do líquido cefalorraquidiano, ou líquor, que envolve as estruturas do sistema nervoso, como o cérebro e a medula espinhal. Através desse tipo de exame, consegue-se medir a quantidade de algumas proteínas envolvidas na formação das placas beta-amilóides e dos emaranhados neurofibrilares. No entanto, são testes diagnósticos que ainda carecem de maior validade e emprego no dia-a-dia dos consultórios. Atualmente, ficam restritos a pesquisas e a poucos laboratórios.

Outra abordagem que também ganha espaço na detecção precoce dessas alterações são os exames de imagem de alta complexidade. Eles possibilitam a visualização das placas beta-amilóides,  o volume  e o funcionamento de determinadas regiões do cérebro, como do hipocampo. A tendência é que esses exames se aperfeiçoarão e farão parte da rotina de investigação médica em um futuro não tão distante. Em poucos anos, conseguiremos, dessa forma, detectar alterações típicas da Doença de Alzheimer até décadas antes dos sintomas se manifestarem. Esse conjunto de exames possibilitará sabermos quem está em risco aumentado de desenvolver a doença ou mesmo que possamos fazer diagnósticos de maneira muito precoce e com maior exatidão. Pode-se dizer que há uma busca a todo custo para detectar essas alterações o quanto antes,  possibilitando alguma forma de tratamento a fim de diminuir as chances do desenvolvimento e da progressão implacável da doença. Busca-se uma estratégia de prevenção extremamente eficaz.

A grande dificuldade tanto nos exames que indicarão o risco ou auxiliarão no diagnóstico, quanto nas medicações para tratar a Doença de Alzheimer é a questão das suas atuações em aspectos específicos da gênese e perpetuação da doença, como a formação das placas beta-amilóides ou dos emaranhados neurofibrilares. Os exames, tanto de imagem, quanto da análise do líquor, focam-se em mecanismos únicos.  No entanto, como vimos, a Doença de Alzheimer é multifatorial e sua origem e progressão são muito complexas, com diversos mecanismos participando (inflamação, estresse oxidativo, desregulação na barrreira hematoencefálica e metabolismo da insulina, por exemplo). Em termos de tratamento, os efeitos adversos das medicações testadas também representam um grande desafio: pela sensibilidade dos neurônios, qualquer pequeno prejuízo a seu funcionamento pode levar a danos irreparáveis.

Avançando agora, cinco, dez, vinte anos, num exercício de imaginação… na hipótese de termos esses exames já bem desenvolvidos e testados, com a ciência permitindo a detecção de alterações da doença ainda em fases iniciais, o que faremos com uma pessoa saudável de 60 anos que descobriu, através de um tipo especial de ressonância magnética, que seu cérebro está cheio de placas beta-amilóides? Possivelmente, já teremos alguma medicação que o ajude a controlar o surgimento de novas placas ou mesmo que as remova. Mas será esse o grande benefício gerado pelo avanço nesses exames? Seria a possibilidade de fornecer alguma medicação preventiva para quem apresentar alterações ou, então, possibilitar a classificação de pessoas como portadores da doença antes mesmo de qualquer sintoma? Acredito que não. A meu ver, o que a evolução nos exames de imagem e também nos medicamentos para tratar a doença de Alzheimer reforçará será a maior ênfase na necessidade de prevenção do surgimento dessas alterações. Somando o avanço tecnológico em termos de diagnóstico ao crescente medo da população em desenvolver a doença, tal combinação promoverá uma obsessão coletiva na prevenção do surgimento das alterações da doença de Alzheimer.

Será muito parecido com o ocorrido em termos de mudança de comportamento quando avançamos na detecção de alterações cardíacas através de exames de sangue, de cateterismo ou de cintilografia miocárdica. Hoje, não esperamos o paciente desenvolver um infarto ou mesmo ter dor no peito para indicar tratamentos ou mudanças significativas em seu estilo de vida. Também não esperamos que  ele venha a ter um exame de imagem de alta complexidade mostrando obstrução das artérias que irrigam e nutrem o coração. Cessar o tabagismo, reduzir o consumo de gorduras saturadas, de sal, controlar os níveis de açúcar no sangue e fazer exercícios físicos – sabemos que essas são atitudes que prevenirão doenças cardíacas. E elas valem para toda a população e independe de se ter ou não qualquer doença cardíaca, independe se o paciente tem ou não exames complexos mostrando alterações.

No caso da Doença de Alzheimer,  a mudança na forma em que pensamos sua prevenção se dará não apenas por medicações, mas por suplementos alimentares ainda não estabelecidos, os chamados “smart nutrients”, e, principalmente, pelo estilo de vida saudável. Isso porque por mais que se avance tecnologicamente, a prevenção do tipo mais importante, que é a primária, da Doença de Alzheimer  recairá sempre sobre seu fator causal mais importante: o estilo de vida, compreendido pela atividade física, alimentação saudável, aspectos de bem-estar mental, social e estímulos. Por mais que se desenvolvam exames e quem sabe até medicamentos limpadores de placas beta-amilóides, a prevenção da Doença de Alzheimer recairá sempre na questão do estilo de vida. Isso não mudará. Jamais.

Abraços!, Leandro

 

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