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Tem como cuidar de um familiar com Alzheimer e ainda ser feliz?

Perder o chão. Medo. Achar que não dará conta. Abandono ou adiamento de planos e desejos pessoais. Os sentimentos que atravessam os familiares das pessoas acometidas pelo Alzheimer não são fáceis, são pesados. E, ao mesmo tempo em que o luto se consolida lentamente, surgem demandas muito concretas em relação ao cuidado do familiar que está ali, cada vez mais dependente ou necessitando de supervisão.

O cuidador passa, de maneira inesperada e não planejada, a ter que tomar decisões complicadas. É preciso, bastante capacidade mental e espiritual, que chamamos de resiliência, para superar esse desafio.

A percepção que eu, Dr. Leandro, tenho dos familiares que acompanho vão ao encontro dos dados na literatura médica: o adoecimento dos cuidadores é frequente, quase que esperado. Algo em torno de 2 em cada 3 cuidadores chegam a passar pelo estresse do cuidador – uma condição de esgotamento psíquico e físico devido ao ato de cuidar.

Depressão e ansiedade são outras doenças que podem surgir em 1 em cada 3 dos cuidadores, prejudicando e muito sua qualidade de vida.

Bom, após essas informações iniciais, parece que a resposta à pergunta seja que cuidar de um familiar com Alzheimer afasta qualquer possibilidade de bem-estar no cuidador, de felicidade.

Porém, em meio a tantas dificuldades testemunhadas e aos estudos realizados na obra de Viktor Frankl, afirmo que, é sim, possível enfrentar esse desafio exigente e prolongado e ainda ser feliz.

Mas como?

Em primeiro lugar, é importantíssimo a compreensão do desafio Alzheimer da melhor maneira possível. Conversar com quem passou por isso pode auxiliar, assim como buscar informação de qualidade, de fontes confiáveis. A relação médico-família é algo muito importante para dar esperança e ajudar nesses momentos de confusão, em especial quando se tem a negação da doença.

Outro aspecto que faz diferença é a família saber o que é possível ser realizado e onde se quer chegar. Em cada estágio da doença, há um conjunto de objetivos e de recursos que podem ser utilizados.

Vejo como tranquilizador para os familiares quando percebem que estão fazendo tudo o possível a seu alcance e que seu ente querido está bem, sem sofrimento e recebendo bom cuidado. Isso também previne uma culpa latente de cuidadores, que acham que sempre poderiam estar fazendo algo a mais – mesmo quando já estão fazendo um ótimo trabalho!

Para aumentar as chances de felicidade na jornada do cuidado de um familiar com Alzheimer há um processo que considero fundamental. Chamo ele de Ressignificação.

Como sabemos, essa doença é um desafio inesperado e cheio de demandas. Nele, o cuidador precisa reorientar o rumo de sua vida, de seus desejos. Quando se consegue fazer essa adaptação e incluir no seu propósito de vida cuidar da melhor maneira possível, preservando sua própria saúde física e emocional e sendo alguém realmente importante, que faz esse cuidado com bons sentimentos, as chances de felicidade aumentam.

Entre os diversos objetivos e sonhos que alimentam o propósito de cada um, quando o cuidador coloca vivenciar e superar esse desafio do Alzheimer da melhor e mais digna maneira possível, ele passa a ter um equilíbrio emocional e a enxergar novamente a vida com bons olhos.

Muitas vezes, conseguir ressignificar a própria vida em meio a estresse, a sentimentos ruins em relação aos outros familiares que poderiam ajudar um pouco mais ou quando se tem negação ou desinformação em relação ao Alzheimer é muito mais difícil.

Por isso, é importante que haja além de uma adaptação da vida do cuidador ao tratamento estabelecido entre equipe médica e família, a busca de ajuda e acompanhamento de um profissional da psicologia para garantir também, a saúde mental do cuidador.

Sim. É possível cuidar de um familiar muito amado que tem Alzheimer e ainda ser feliz.

Aliás, é possível se transformar numa pessoa muito melhor. 

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