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A Busca

A construção de um método de trabalho/atendimento que fosse próprio e intermediasse as convicções acerca da medicina periocidamente retornam à mente. Durante alguns períodos, confesso, essa busca de certa forma me angustiava e impulsionava a estudar bastante – isso foi ali pelo final da faculdade e nos dois primeiros anos de formado. Angustiava porque o desejo, o ideal, a meta sempre foram audaciosos: conhecer bem o paciente e estabelecer uma relação duradoura. Em 2007, vivendo na época da superespecialização médica e sendo fruto, não querendo cuspir no prato que comi, de uma faculdade que fomentava justamente essa tendência cultural do especialista, cheguei a achar que tinha escolhido ser médico no século errado… A maioria dos professores me ensinaram a conhecer doentes; apenas poucos, pacientes – pessoas que pudessem me ensinar; que me enfrentariam não por raiva, mas por seus medos; que apontariam com as mãos no estômago seus problemas existenciais; enfim, seres humanos que precisam de médicos. Conhecia apenas as doenças e os doentes com olhos assustados dos serviços universitários do SUS. Me perdi aqui no texto. Voltando à busca do método, obviamente ela não é só minha: é uma busca da humanidade. Para o que eu me propunha, o estudo era, e será, uma constante. E, com certeza, sem lamento algum, trata-se de um jeito de viver apaixonante e desafiante – além do mais, pelo estímulo mental, espero que afaste uma futura demência.

Nessa semana, iniciei um processo de revisão dessa questão do método. Quero saber onde investir, o que estudar, se preciso ou não mudar minha folhinha de consulta, essas coisas todas. Exames, vitaminas, hormônios, marcadores inflamatórios, humanismo, porcentual de gordura corporal, escalas e testes, técnicas de entrevista motivacional, perguntar sobre as unhas, probióticos – percorri alguns caminhos, tive que rever diversos conceitos e aprender que na ciência das verdades transitórias, o jeito mais difícil de encarar os fatos não é acreditando em tudo ou duvidando de tudo, mas estudando o que fosse possível. Não. O método não é técnico. O que faz o paciente retornar, o que faz ele retornar melhor ou curado, mais magro ou atleta, sem o cigarro no bolso ou sendo voluntário em algum lugar, não é nada técnico, laboratorial ou prescritivo. O método é simplesmente relacional.

De um amigo ouvi esses tempos que para quem tem só martelo, tudo é prego. Boa essa. Só que o método não é ser um martelo maior, ou um mais sofisticado, com suporte para não rachar o reboco ou acertar o dedo. Também não é carregar nas mãos três ou quatro martelos diferentes. Desse mesmo amigo ouvi que o que cura e muda os pacientes é justamente o médico, com seu ânimo e energia. Acredito. Passei a acreditar ainda mais depois que comecei a observar com mais cuidado. Como é complicado essa função do método! Exige estar bem, muito bem para trabalhar. Tenho reparado no que me dizem familiares sobre suas consultas: postura, explicação, escuta e conversa, conforto e plano terapêutico claro e bem informado são as características que eles destacam.

Há três meses, resolvi, durante uma semana, fazer anotações após cada consulta. Escrevia o que era o caso, pontos altos e negativos do atendimento e o que eu poderia ter melhorado. Conclusão: postura, explicação, escuta e conversa, conforto e plano terapêutico claro e bem informado era o que tornaria as consultas melhores! Interessante, não é? A impressão que eu tinha de como melhorar era justamente o que os meus familiares me relataram. Desde lá automatizei algumas perguntas, como “o senhor tem alguma dúvida?”.

Continuo a construir o método. Ainda não sei que rumo tomar, mas nas próximas semanas espero me deparar com algum livro, texto ou reflexão que indique um norte, um novo pilar. Para terminar, deixo um grande coach humanista: Carl Rogers.

“Há três condições básicas e simultâneas defendidas por Rogers como facilitadoras,no relacionamento entre psicoterapeuta e cliente, para que ocorra a atualização desse núcleo essencialmente positivo existente em cada um de nós. São elas: a consideração positiva incondicional; a empatia e a congruência.

Em linhas gerais, ter consideração positiva incondicional é receber a aceitar a pessoa como ela é e expressar uma consideração positiva por ela, simplesmente por que ela existe, não sendo
necessário que faça ou seja isto ou aquilo,portanto,aceitá-la incondicionalmente; a empatia, por sua vez, consiste na capacidade de se colocar no lugar do outro, ver o mundo através dos olhos dele e procurar sentir como ele sente;e a congruência, a coerência interna do próprio terapeuta.

O interessante na abordagem rogeriana é que a aplicação do seu método em psicoterapia, passa por um processo de amadurecimento do próprio psicoterapeuta, já que ele não pode simplesmente apropriar-se de uma “técnica”, mas que lhe seja próprio e natural agir conforme as condições desenhadas por Rogers. Percebe-se então, por exemplo, que a expressão de uma afetividade incondicional só ocorre devidamente se brotar com sinceridade do psicólogo; não há como simular tal afetividade. O mesmo ocorre com a empatia e com a congruência. Por isso se diz que não existe uma “técnica rogeriana”, mas sim psicólogos cuja conduta pessoal e profissional mais se aproximam da perspectiva de Carl Rogers.

Outro ponto a considerar é que após longos estudos, Rogers chegou à conclusão de que as três condições são eficazes como instrumento de aperfeiçoamento da condição humana em qualquer tipo de relacionamento, tais como: na educação entre professor e aluno, no trabalho, na família,nas relações interpessoais em geral.” (wiki)

Abraços, Leandro

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